terça-feira, 23 de maio de 2017
sexta-feira, 19 de maio de 2017
domingo, 14 de maio de 2017
sábado, 13 de maio de 2017
Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, todos aqueles que estão nos ouvindo ou nos assistindo, hoje faz um ano que aconteceu o golpe político parlamentar no nosso País, que levou o País a essas consequências que estamos vivendo hoje. Não há nada a comemorar, a não ser protestar ou resistir ou denunciar o que aconteceu e está acontecendo no nosso País.
Primeiro, é fundamental o nosso povo lembrar das conquistas, principalmente da conquista da democracia no nosso País. A elite brasileira, quando perde o poder político, sempre buscou formas de retomar o poder através dos golpes, às vezes militar, e agora este golpe civil, político, parlamentar, que levou o País à nossa situação.
Se fôssemos fazer uma síntese do que aconteceu nesses últimos tempos, e que não só colocou em xeque o retrocesso da nossa ainda precária democracia, que estávamos construindo, se ela avançar, além da democracia política, da democracia econômica, da democracia social, que era o que se estava implementando no nosso País através dos governos populares, principalmente do Governo Lula e recentemente do Governo Dilma...
Se fôssemos reduzir, não só o Governo, o golpe, destruiu as conquistas do povo e os direitos dos trabalhadores, como destruiu também a nossa soberania perante o mundo. E principalmente uma coisa: o Governo ilegítimo do Temer volta a se submeter à sanha do capital financeiro internacional, através da força dos entreguistas que estão incrustados dentro do governo ilegítimo, do Governo Temer. O que aconteceu, portanto, é que a nossa economia foi submetida aos interesses internacionais, principalmente do capital financeiro, e com isso, por causa dessa recomendação e da cartilha do capital financeiro, coloca-se em xeque o Orçamento do nosso País, porque investir nas questões sociais, para eles é custo e para nós era investimento.
Por isso o corte orçamentário nas principais políticas sociais que nós já tínhamos conquistado e avançado no nosso País, – o corte na educação, o corte na saúde, o corte nas políticas sociais, como o Luz para Todos, o Bolsa Família, o Fies, acabar com a Farmácia Popular, enfim, ganhos sociais através das políticas públicas que o povo brasileiro tinha conquistado ao longo de governos populares.
O direito dos trabalhadores, através da chamada reforma trabalhista e da reforma da Previdência – nessa articulação de tirar direito através da reforma trabalhista e da reforma da Previdência, sem dúvida nenhuma, está por trás a cartilha neoliberal do capital financeiro internacional, à medida que, na reforma da Previdência, o que está por trás é o interesse da previdência privada, que quer que se reduzam os benefícios da Previdência Social, solidária, que é a do nosso País, para poder fazer com que aqueles que querem ganhar uma aposentadoria maior logicamente corram para a previdência privada.
Quanto à questão dos direitos trabalhistas, sem dúvida nenhuma, o que está por trás da reforma trabalhista é a desorganização da estrutura sindical, que, pós-ditadura militar, nós construímos no nosso País. As centrais sindicais, a força das centrais sindicais, foi o grande ganho, porque rompemos com a estrutura sindical vinculada à estrutura do Estado, ao Ministério do Trabalho, e construímos um movimento sindical mais livre, baseado na chamada Convenção 87, em que defendíamos um movimento sindical, uma estrutura sindical que fosse baseada em liberdade e autonomia sindical. De certa maneira, tínhamos avançado bastante nisso com a criação das centrais sindicais. Avançou-se, rompendo umbilicalmente com uma estrutura sindical que se submetia à intervenção do Estado brasileiro através do Ministério do Trabalho.
Na reforma trabalhista que está posta aí, um dos pilares é desorganizar essa estrutura sindical, para tirar a força dos sindicatos na defesa dos interesses dos trabalhadores; a outra é precarizar o trabalho: na medida em que se quebra a jornada de trabalho de oito horas, através da tal jornada intermitente, precariza-se esta relação, conquista já de séculos da classe trabalhadora através de uma história de luta muito longa, em que conquistamos o direito da jornada de oito horas.
Portanto, essa reforma trabalhista coloca por terra essas conquistas, esses direitos dos trabalhadores, ao ponto de que o Presidente do Tribunal Superior do Trabalho vem aqui, numa audiência pública, e diz que é razoável a ideia de ter 30 minutos para almoçar. É razoável! Ou seja, não leva em consideração a questão que a própria medicina recomenda, que o próprio Ministério da Saúde recomenda: a questão da proteção ao trabalhador.
E a questão do emprego.
Essa reforma que está aí não vai dar conta de resolver o problema do emprego. O problema do emprego se resolve com uma economia e com um Estado que invista na produção, fazendo o PAC, investindo em mais estradas, em mais portos, em mais aeroportos, estruturando o País na sua logística, para ajudar no desenvolvimento da economia do nosso País. A logística tem a ver com a redução do chamado custo Brasil. É isso que vai criar condições para a geração de emprego. E o fortalecimento do capital produtivo, ao invés de entregar a nossa economia à sanha dos bancos ou do capital financeiro internacional.
Então, essa proposta que está aí não só retira direitos como precariza o trabalho, desorganiza a estrutura sindical e não vai resolver o problema de emprego no nosso País.
Nós, do Partido dos Trabalhadores, através do Governo Lula, nos oito anos de Governo Lula, demonstramos o contrário: que é possível crescer a economia, desenvolver o nosso País com crescimento e distribuição de renda, aumento do salário mínimo e oportunidade de emprego, como criamos 22 milhões de empregos. Nós criamos essa condição de o País crescer, desenvolver-se, distribuir renda e gerar emprego, sem mexer nos interesses, nos direitos e nas conquistas dos trabalhadores. Ao contrário, criaram-se condições para que todos os setores da economia brasileira crescessem e ganhassem o seu quinhão no processo de desenvolvimento.
Por isso, Sr. Presidente, nobres companheiros Senadores e Senadoras, nesta sexta-feira estamos aqui para denunciar o golpe, para denunciar os retrocessos que estão acontecendo no nosso País, em todos os setores.
É impressionante como este Governo promove um retrocesso brutal nas conquistas, nos avanços, até no avanço da democracia participativa, como a criação de conselhos, os avanços da participação popular em conselhos. Por exemplo, o Ministro da Educação acabou com o Conselho de Educação, onde está a representação dos vários setores da educação. A representação dos trabalhadores é nos conselhos, dos sindicatos, tanto o patronal quanto dos trabalhadores e dos intelectuais. Quer dizer que se desorganizam e se desmontam essas estruturas de participação popular em que nós avançamos nos últimos tempos.
Então é um retrocesso brutal em todas as áreas. É a entrega das nossas conquistas à sanha dos interesses escusos e dos interesses do capital financeiro internacional. Está destruindo aquilo que nós conquistamos, um Estado democrático social, preparando para que outros venham na construção de um Estado neoliberal, submetido aos interesses internacionais.
Nós havíamos avançado na conquista da soberania, e o País influenciou na mudança de uma nova estrutura econômica internacional, de uma nova geografia internacional, com a criação do G20, dos BRICS e o impedimento da criação da Alca na América Latina. Tudo isso representou avanços, graças à intervenção de um governo democrático popular que ajudou a mudar a geografia internacional. Tudo isso está sendo destruído para que o nosso País, de novo, fique entregue à sanha do capital financeiro internacional.
Cito outro retrocesso muito forte. Eu queria terminar o meu discurso, nesses últimos seis minutos, denunciando, principalmente no Pará, a consequência desse retrocesso com a volta da matança no campo através das chacinas, como no problema de Mato Grosso, além da perseguição e da chacina nas terras indígenas. Tudo isso é retrocesso. Um Governo ilegítimo, autoritário e entreguista como o Governo Temer também está fazendo retrocessos seculares na questão do campo.
A proposta de vender terras para estrangeiros, o retrocesso na questão do financiamento para entregar as terras improdutivas para a reforma agrária, isso assanha de novo os grandes latifundiários violentos para a volta do conflito no campo, reduzindo a capacidade de resistência e de luta dos trabalhadores rurais, que sempre foram combativos na busca de uma reforma agrária.
Todo mundo sabe que a melhor forma de desenvolver o campo é uma reforma agrária capaz de assegurar terras para quem quer trabalhar, para quem quer produzir, não concentrar a terra na mão de poucos em detrimento de muitos que vivem perambulando em busca de um pedaço de terra para trabalhar, produzir e viver bem e com dignidade com a sua família. Conquistas e avanços que nós tínhamos alcançado estão sendo colocados por terra.
O povo brasileiro está penalizado, sofrendo as consequências do golpe de 2016. Tudo piora no País: as estradas, o desemprego, que subiu, o Fies, que foi reduzido. As farmácias populares foram extintas, assim como o Ciência Sem Fronteiras, que dava oportunidade à nossa juventude de buscar mais conhecimento nas grandes universidades do exterior, nos países mais desenvolvidos. Os investimentos em saúde, segurança pública e educação estão sustados por conta da PEC conhecida como a PEC do fim do mundo. E agora os efeitos da era Temer começam a atingir os trabalhadores do campo, acirrando os conflitos rurais.
Acabamos de passar por 17 de abril, data em que 21 trabalhadores rurais sem terra foram chacinados pela polícia do Pará, ainda nos idos de 1996. Em 19 de abril passado, tivemos a chacina de Colniza, no Mato Grosso, que massacrou nove trabalhadores rurais.
Já no início do mês, foram treze indígenas do povo Gamela, no povoado Bahias, Município de Viana, no Maranhão, que sofreram tentativa de homicídio e foram agredidos com golpes de facão, pauladas e tiros.
O meu Estado do Pará, Sr. Presidente, também apresenta números alarmantes de violência contra trabalhadores rurais e suas lideranças, numa escala que só aumenta, infelizmente.
É a omissão do Estado brasileiro que permite o avanço da violência, além de protagonizar a imposição de agendas que violam os direitos dos mais pobres, conduzindo o País ao que se pode chamar de uma variante de "terrorismo de Estado", com a criminalização dos movimentos sociais que resistem a tais violações.
No texto que escreveu para o relatório anual da Comissão Pastoral da Terra "Conflitos no Campo Brasil 2016", Leonardo Boff apontou os quatro pontos centrais da questão que pesam sobre nós, brasileiros, e que originaram e originam a violência:
O nosso passado colonial elitista e dependente da matriz;
O genocídio indígena, que gerou o desrespeito e a discriminação social;
A escravidão negra, a "mais nefasta de todas", que estruturou a desigualdade social das maiores do mundo;
E a capitalista Lei de Terras, de 1850, que excluiu os pobres e, preventivamente, os ex-escravos do acesso à terra e os entregou ao arbítrio do grande latifúndio, submetidos a trabalhos sem garantias sociais.
Os números de 2016 são alarmantes, Srªs e Srs. Senadores: 61 assassinatos, 1.079 ocorrências de conflitos por terra e 172 conflitos pela água.
Após o impedimento golpista da Presidenta Dilma por um Congresso dos mais conservadores, com o apoio do Judiciário e da mídia, estamos vendo agora uma avalanche de ataques aos direitos dos pobres e da classe média, a população que trabalha, paga impostos e sustenta o Estado.
Em menos de um mês, desde o dia 20 de março, oito trabalhadores foram assassinados na área rural do Pará. Foram dois assassinatos por semana, Sr. Presidente. O assassinato da líder camponesa Kátia Martins, de 43 anos, presidente da Associação de Moradores do Assentamento Primeiro de Janeiro, em Castanhal, a 130 quilômetros de Belém, chocou a opinião pública do Estado do Pará, além de outras sete mortes em pouco mais de 15 dias.
As entidades que representam e defendem os trabalhadores rurais se reuniram no dia 8 de maio para cobrar providências dos governos Federal e Estadual. A reunião aconteceu na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB em Belém, com a presença da Comissão Pastoral da Terra, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura, do Movimento Sem Terra e da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Pará, dentre outras.
Essas entidades apontaram cinco principais reivindicações para reduzir a violência no campo. A principal é cobrar do Governo do Estado, do Ministério Público Federal e do Ministério Público do Estado proteção policial aos trabalhadores ameaçados de morte.
O mais recente levantamento da CPT mostra que cerca de 100 pessoas estariam marcadas para morrer em todo o Estado.
Além disso, as entidades querem que o Estado efetive a Comissão Estadual de Proteção aos Ameaçados de Morte, criada pela Assembleia Legislativa do Pará.
Tenho certeza de que os conflitos fundiários no Pará são motivados pela ausência do Estado no campo. O Governo Federal extinguiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário e outras autarquias que deveriam se preocupar com os direitos humanos e também diminuiu os recursos e o pessoal para os órgãos responsáveis por garantir políticas sociais, como a Funai, o Incra e o grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho, além de se negar a publicar a lista suja do trabalho escravo.
O Judiciário, por sua vez, mostra-se inoperante nessas questões. Conforme dados do Movimento Sem Terra, 70% dos inquéritos policiais estão relacionados à violência no campo. Todos estão paralisados. O aumento dos conflitos mostra que os latifundiários apontados como autores dos crimes não temem o Poder Público. Além disso, o Judiciário tem, com frequência cada vez maior, enquadrado os movimentos sociais, de modo mais explícito o Movimento Sem Terra, como organização criminosa, como se viu recentemente em Goiás. A pistolagem cresce porque não há condenação dos culpados e, com tanta impunidade, os trabalhadores ficam desprotegidos e à mercê da violência. Este é mais um exemplo de retrocesso que o nosso País está vivendo sob a égide do Governo golpista de 2016.
Há solução? Há sim, Sr. Presidente, nobres Senadores e Senadoras, começando por uma efetiva reforma agrária e um vigoroso assentamento dos trabalhadores rurais impostos pelas forças da sociedade reunida em torno dos movimentos populares de luta pela conquista e defesa da terra e dos territórios.
Como bem disse o Papa Francisco, "É preciso cuidar da casa comum a todos" frente às crises ambiental, climática, hídrica e energética que se apresentam. É preciso mudarmos os paradigmas em nosso País. É preciso que todo o povo brasileiro ganhe, não apenas uma elite diminuta e predatória que sempre se locupleta. É preciso reconhecer a importância da imensa população rural e resgatar a dignidade das vítimas. Só assim alcançaremos a paz no campo.
Por isso a palavra de ordem nesse ano de Governo golpista é eleições diretas já, sem nenhum direito a menos, paz, luta e povo na rua para essas conquistas.
Aqui nós montamos uma bancada de resistência para podermos resistir e denunciar o que está acontecendo em nosso País, porque a grande imprensa tenta esconder a reação do povo brasileiro, mas os trabalhadores estão na rua. E é com o povo na rua que a gente vai evitar mais retrocesso em nosso País.
quarta-feira, 10 de maio de 2017
segunda-feira, 8 de maio de 2017
Nota Técnica do MPT defende rejeição integral ao projeto que regula o trabalho rural
Proposta, em tramitação na Câmara dos Deputados, prevê que remuneração pode ser paga com fornecimento de alimentação e moradia
O Ministério Público do Trabalho (MPT) divulgou nesta quinta-feira (5), nota técnica sobre o projeto de lei que institui normas reguladoras do Trabalho Rural (PL 6442/16), de autoria do deputado Nilson Leitão (PSDB-MT). Na avaliação do MPT, o projeto que tramita na Câmara dos Deputados viola princípios constitucionais, convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e trará profundo prejuízo às relações de trabalho no meio rural, representando um grande retrocesso social. A nota defende a rejeição total do projeto.
De acordo com o estudo feito, o projeto de lei acarreta amplas e graves consequências, com repercussões diretas nas condições de saúde e de segurança no trabalho desenvolvido no meio rural. Se aprovado, poderá levar a um aumento exponencial da precarização das relações laborais nesse importante segmento, que abrange parcela expressiva dos trabalhadores em âmbito nacional.
Um dos pontos mais graves é o que permite a remuneração dos trabalhadores pelo fornecimento de alimentação e moradia. O projeto desobriga o pagamento de salário em tais condições.
A nota ainda condena outros pontos da proposta, tais como a extinção do direito às chamadas “ horas in itinere ” (tempo despedindo pelo empregado até o local de trabalho e para o seu retorno quando o empregador fornece o transporte); a autorização para a venda integral de férias regulares; autorização para prorrogação da jornada diária normal por até quatro horas, nas hipóteses de “necessidade imperiosa ou em face de motivo de força maior, causas acidentais, ou ainda para atender a realização ou conclusão de serviços inadiáveis, ou cuja inexecução possa acarretar prejuízos manifestos; o a autorização para o trabalho aos domingos e feriados sem qualquer condicionante, entre outros pontos.
“Ao permitir ao trabalhador rural o gozo contínuo do repouso semanal remunerado por período trabalhado consecutivamente de até 18 dias (art. 8º, § 2°), o projeto ignora a salvaguarda da higidez física, psíquica e social do trabalhador e viola frontalmente o disposto no art. 7º, XV, do texto constitucional que impõe o gozo do repouso hebdomadário preferencialmente aos domingos.”, diz outro trecho da nota.
De acordo com a nota, o projeto tenta aprovar para relações de trabalho rural a prevalência do negociado sobre o legislado, com a finalidade de reduzir direitos dos trabalhadores. A proposta também afeta princípios de segurança, saúde e meio ambiente do trabalho, ao extinguir a Comissão Permanente Nacional Rural, instância nacional encarregada das questões de segurança e saúde do trabalho; permitir que maiores de 60 anos possam manipular agrotóxicos; dispensar a realização de exames demissionais e acabar com a obrigação de descontaminação dos equipamentos de proteção ao final de cada jornada, entre outros pontos.
A nota é assinada pelo procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury, que designou para o trabalho de análise técnica os procuradores: Carlos Eduardo de Azevedo Lima, secretário adjunto de Relações Institucionais; Tiago Muniz Cavalcanti; coordenador nacional da Coordenação Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaete), e Maurício Ferreira Brito, vice-coordenador nacional da Conaete
De acordo com a nota, o projeto tentar aprovar para relações de trabalho rural a prevalência do negociado sobre o legislado, com a finalidade de reduzir direitos dos trabalhadores. A proposta também afeta princípios de segurança, saúde e meio ambiente do trabalho, ao extinguir a Comissão Permanente Nacional Rural, instância nacional encarregada das questões de segurança e saúde do trabalho; permitir que maiores de 60 anos possam manipular agrotóxicos; dispensar a realização de exames demissionais e acabar com a obrigação de descontaminação dos equipamentos de proteção ao final de cada jornada, entre outros pontos.
A nota é assinada pelo procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury, que designou para o trabalho de análise técnica os procuradores: Carlos Eduardo de Azevedo Lima, secretário adjunto de Relações Institucionais; Tiago Muniz Cavalcanti; coordenador nacional da Coordenação Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaete), e Maurício Ferreira Brito, vice-coordenador nacional da Conaete.
Confira a íntegra da Nota Técnica
Fonte: Procuradoria-Geral do Trabalho
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 08/05/2017
sexta-feira, 5 de maio de 2017
Bauman: assim chegamos à Retrotopia
POR
ZYGMUNT BAUMAN
– ON 05/05/2017CATEGORIAS: CAPA, MUNDOhttp://outraspalavras.net/Sai em breve, em português, livro póstumo do filósofo, morto em janeiro. Numa de suas últimas entrevistas, ele alerta: estamos involuindo de uma crença tola no futuro para a mistificação infantil do passado
Por Zigmunt Bauman, em diálogo com a Spyked Review | Tradução: Inês Castilho
As nove décadas de Zygmunt Bauman foram vividas próximo à medula da história. Nascido em 1925 de pais judeus poloneses não-praticantes em Poznan, sua família foi para União Soviética em 1939, quando os tanques nazistas invadiram a Polônia. Tendo servido no Exército Vermelho com distinção, retornou à Polônia depois da Segunda Guerra Mundial para estudar sociologia na Universidade de Varsóvia. Mas, com o comunismo tendo há muito perdido seu brilho e sua carreira impedida pelo antissemitismo, ele emigrou para a Grã Bretanha em 1968, onde assumiu uma cadeira de sociologia na Universidade de Leeds.
Mas foi depois de sua aposentadoria, em 1990, que sua inteligência inquisidora, pela qual ele é tão renomado, começou a gerar livro após livro. “O Mal Estar da Pós-modernidade” (1992); “Ética pós-moderna” (1993), “Globalização: as Consequências Humanas” (1998), “Modernidade Líquida” (2000), “Amor Líquido” (2003); “Ensaios sobre o conceito de Cultura” (2012)… A lista é enorme. De fato, no último quarto de século ele publicou cerca de 40 livros, não por escrever, mas porque o mundo como ele é não é como ele sente que deveria ser. Ou, como afirmou em 2003: “Por que escrevo livros? Por que eu penso? Por que eu deveria ser apaixonado? Porque as coisas poderiam ser diferentes, deveriam ser melhores.”
A conversa abaixo aconteceu no ano passado. Instigada por uma questão sobre o Brexit, acabou levando a um diálogo sobre o futuro, o passado e o destino do projeto iluminista.
Você falou sobre a desilusão popular com a política nacional num mundo globalizado, e o sentimento popular de que políticos nacionais não têm poder para influenciar mudanças. Suas posições mudaram à luz do referendo sobre a União Europeia na Inglaterra, e a perspectiva do Brexit?
Acredito que o colapso da confiança na capacidade de todo o establishment político, em todo o mundo desenvolvido, para realizar as mudanças desejadas (ou qualquer mudanças prometida) é o que, paradoxalmente, sedimentou o fenômeno Brexit.
Com a completa frustração dos eleitores com a elite política, e sua recusa total de investir confiança em qualquer segmento da elite política, o referendo ofereceu uma oportunidade sem precedentes para as escolhas em votação coincidissem com os sentimentos que precisavam exprimir-se. Foi uma ocasião única, nesse sentido, e tão diferente das eleições parlamentares de rotina!
Numa eleição geral, você pode expressar sua frustração e raiva contra o mais recente de uma longa linhagem de detentores de poder e fazedores de promessas. Mas o preço que se paga por esse alívio emocional é meramente convidar a Oposição, parte inseparável do establishment político, a assumir os gabinetes ministeriais como o Governo. Nesse infinito jogo de cadeiras, você não chega nem perto de expressar a natureza geral da sua discordância.
A oportunidade oferecida pelo referendo sobre o Brexit foi completamente diferente. Com quase todos os setores do establishment político posicionados em favor da permanência na União Europeia, podia-se usar um único voto, Sair, para descarregar, de uma só vez, a raiva contra todos eles. Quanto mais abrangente a frustração, mais tentador torna-se fazer exatamente isso — agarrar essa oportunidade única para desabafar.
Você tem escrito sobre o fim do progresso e a perda da crença na ideia de que o futuro será melhor que o passado. Há algo no fenômeno do Brexit (e, por certo, em outros movimentos populistas do continente) que promete uma era nova, talvez melhor, para a Europa?
Nós ainda acreditamos em “progresso”, mas agora o vemos tanto como bênção quanto como uma maldição — com o aspecto de maldição crescendo progressivamente, enquanto o lado bênção fica menor. Compare isso com a atitude de nossos ancestrais mais recentes – eles ainda acreditavam que o futuro seria o espaço mais promissor para as esperanças. Nós, contudo, tendemos a projetar nossos medos, ansiedades e apreensões no futuro: um futuro de crescente escassez do emprego; de queda da renda e portanto também de declínio das oportunidades de vida, nossas e dos nossos filhos; de crescente fragilidade das nossas posições sociais e da provisoriedade de nossas realizações na vida; de uma fenda que aumenta desenfreadamente entre as ferramentas, os recursos e as competências à nossa disposição e a enormidade dos desafios colocados pela vida; do controle de nossas vidas, que escapa das mãos. É como se nós, indivíduos, estivéssemos sendo rebaixados ao status de peões, à margem de um jogo de xadrez entre pessoas desconhecidas. Elas são indiferentes às nossas necessidades e sonhos, quando não francamente hostis e cruéis, e estão todas completamente prontas a nos sacrificar para alcançar seus próprios objetivos.
O que o pensamento do futuro tende a trazer à mente hoje, portanto, é a crescente ameaça de ser descoberto e rotulado como inapto para a tarefa, com seu valor e dignidade negados, marginalizados, excluídos e banidos.
Uma crescente maioria de pessoas já aprendeu, a essa altura, pela própria experiência e pela dos que lhe são próximos e caros, a desacreditar de um futuro desigual, instável, imprevisível e notoriamente decepcionante, como o lugar para investir esperanças. Meu último livro, Retrotopia, aborda precisamente essas questões. Permita-me citar um trecho de sua introdução:
Eis o é o que Walter Benjamin tinha a dizer em suas Teses da Filosofia da História, escritas no início dos anos 40, sobre a mensagem transmitida por Angelus Novus (renomeado Anjo da História), uma pintura de 1920 de Paul Klee:
“A face do Anjo da História está voltada para o passado. Onde nós percebíamos uma cadeia de eventos, ele vê uma catástrofe única que continua empilhando destroços e jogando-os diante dos seus pés. O anjo gostaria de ficar, acordar os mortos, e tornar inteiro o que foi esmagado. Mas uma tempestade está soprando do paraíso; o anjo ficou preso em suas asas com tal violência que não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impulsiona irresistivelmente em direção ao futuro, para o qual ele dá as costas, enquanto a pilha de escombros cresce, diante dele, rumo ao céu. A tempestade é o que chamamos progresso.”
Fosse alguém olhar de perto a pintura de Klee, um século, quase, depois que Benjamin produziu seu insight insondável e incomparavelmente profundo, poderia mais uma vez capturar o Anjo da História em pleno voo. O que mais pode impactar, a ele ou a ela, é o anjo mudando de direção – o Anjo da História apanhado no momento de uma volta de 180º. Sua face está girando do passado para o futuro, suas asas sendo puxadas para trás pela tempestade, golpeando esse tempo do futuro imaginado, precipitado e antecipadamente temido em direção ao paraíso do passado (ele próprio imaginado retrospectivamente, depois de ter sido perdido e reduzido a ruínas). E as asas estão agora sendo pressionadas, como eram pressionadas antes, com violência igualmente poderosa, de modo que agora, como então, “o anjo não pode mais fechá-las”.
Passado e futuro, pode-se concluir, estão no processo de trocar seus respectivos vícios e virtudes, relacionados – como sugeriu Benjamin – por Klee há cem anos. Agora, o futuro é que está marcado no lado do débito, denunciado inicialmente por sua não-confiabilidade e por ser incontrolável, com mais vícios que virtudes; enquanto a volta ao passado, com mais virtudes que vícios, é marcada na coluna do crédito – como um lugar ainda de livre escolha e do investimento ainda não-desacreditado de esperança.
Penso que o episódio Brexit, assim como “outros movimentos populistas no continente” são manifestações da “tendência à retrotopia” discutida acima. Na ausência de ferramentas efetivas de ação capazes de enfrentar os problemas de nossa presente situação, e dado o crescente desapontamento trazidos por sucessivos futuros creditados com o desenvolvimento dessas ferramentas de ação, não surpreende que a proposta de exploração do giro de 180º pareça ilusoriamente atrativa. A possibilidade de “uma nova, talvez ainda melhor era para a Europa” que emerge do resultado do Brexit, pode ainda aparecer, como sua consequência não-antecipada, embora plausível. Mas isso ocorrerá porque nos frustramos com o uso de tribalismos antiquados para lidar com os desafios do presente, gerados pela emergente condição humana de interdependência mundial.
Faz sentido a ideia de uma tendência retrotópica, dado o medo generalizado do futuro. Mas como você considera a tendência coexistente de ver o passado como uma moral absolutamente negativa, um tipo de moralidade, se você quiser, que orienta o presente dizendo “sabemos que somos contra aquilo” ou “nunca mais”? Estou aqui pensando na centralidade do Holocausto na política contemporânea e no discurso histórico, nos últimos 20 anos. E estou também pensando no recente, mas contínuo foco nos crimes sexuais históricos do Reino Unido, onde frequentemente parece que o passado relativamente recente está se transformando numa visão de corrupção e imoralidade difíceis de acreditar, e contra o qual nos afirmamos no presente. O futuro certamente parece desacreditado, hoje, mas o passado não o é igualmente?
Isaac Newton insistiu em que cada ação dispara uma reação… E Hegel apresentou a história como um conflito/fricção entre oposições, que provocam e reforçam mutuamente oposições (o processo interconectado de dissolução e absorção conhecido por “dialética”). Se vocês fossem partir de Newton ou Hegel, chegariam à mesma conclusão: ou seja, de que seria de fato bizarro se a tendência retrotópica não fosse alimentada por e alimentadora da entronização e destronamento do futuro (sua pergunta, aliás, é um bom exemplo dessa dialética).
A retrotopia, assim como a utopia-Futura ortodoxa, refere-se a uma terra estrangeira: um território desconhecido, não-visitado, não-testado e, em suma, não-experimentado. Essa é precisamente a razão pela qual se recorre a retrotopias e utopias, de forma intermitente, sempre que se procura uma alternativa ao presente. Ambas são, por essa razão, visões seletivas, e em ambos os casos são visões seletivas passivamente e obedientemente suscetíveis de manipulação. Em ambos os casos, os holofotes da atenção são focalizados em alguns aspectos de, para citar Leopold von Ranke, como era realmente (wie es ist eigentlich gewesen), mas numa densa sombra. Isso possibilita a ambos ser territórios ideais (imaginados) onde localizar o estado de coisas (imaginado) ideal, ou ao menos uma versão corrigida do presente estado de coisas.
Até aqui, utopia e retrotopia não diferem – pelo menos em seus processos e na parcialidade dos resultados. O que realmente separa os dois é a mudança de lugar entre confiança e desconfiança: a confiança sendo movida do futuro para o passado, a desconfiança na direção oposta. Seu próprio exemplo captura esse processo, implicando que a inevitabilidade da “tendência retrotópica” coincide com a popularidade do “nunca mais”. Afinal, a retrotopia deriva sua atração, entre outros fatores, do senso de que o futuro pode “nunca mais”, e é provável que “faça isso novamente”. Aquela “centralidade do Holocausto na política contemporânea e no discurso histórico, que realmente manifestou-se nos últimos 20 anos”, como você notou tão corretamente, de outra forma não teria acontecido. Ela testemunha o colapso da confiança na capacidade do futuro elevar os padrões morais.
Você fala corretamente, acredito, dessa intensa desconfiança do futuro, que por sua vez gera esses sonhos retrotópicos de um passado que nunca foi. Mas, por que o futuro deixou de ser o lugar de nossas esperanças, o espaço em que imaginamos e prevemos as coisas como deveriam ser? Você responde a isso parcialmente, quando nota que “uma grande e crescente maioria de pessoas… aprendeu… a desacreditar do futuro desigual, inconstante, imprevisível e notoriamente desapontador”. Mas a história europeia está marcada pela experiência de diversos eventos horrendos, que não necessariamente resultaram numa perda de fé generalizada no futuro. Por exemplo, a Guerra dos Trinta Anos foi seguida pelas primeiras inspirações do Iluminismo, um dos momentos culturais mais otimistas e orientados ao futuro. Até mesmo depois da catástrofe das Guerras Mundiais e do Holocausto, no período pós-guerra, até os anos 1970, foi seguramente marcado por um grau de otimismo, de que as coisas estavam melhorando, de fato, “de que você nunca esteve tão bem”. Então, é claro, houve os anos sessenta, um momento de grande experimentação social e política.
Então, o que acontece na vida em sociedade hoje que transformou o futuro em algo a se desconfiar, a temer?
Pensar no futuro “como alguma coisa suspeita, a ser até mesmo temida”, não é de forma alguma novo na história humana. De fato, remonta aos tempos pré-socráticos, mais precisamente ao século 8 AC – ao Trabalhos e os Dias de Hesíodo, particularmente à sua história “Idades dos Homens”. É uma história de contínua decadência, corrupção e degradação, do pico dos “anos de ouro” aos “anosde ferro”, o fundo dos fundos, no qual Hesíodo se coloca junto com seus contemporâneos. Sua descrição da condição e dinâmica dos habitantes dos anos de ferro era marcantemente reminiscente das características que nossos próprios contemporâneos imputam às condições do nosso próprio século 21, quando embarcamos na jornada retrotópica; ou seja, era atroz, horripilante e repulsiva.
Na visão de Hesíodo, a “raça do ferro” estava destinada a “nunca descansar do trabalho e da tristeza durante o dia, e da destruição à noite”. Na idade do ferro, “o pai não concordará com seus filhos, nem seus filhos com seus pais, nem hóspedes com seu anfitrião, nem companheiros com companheiros” e “não haverá privilégio para o homem que mantém seu juramento ou para o justo ou para o bom; mas, ao contrário, os homens vão louvar os malfeitores e seus negócios violentos. A força será certa, e não haverá mais reverência. E os ímpios ferirão o homem digno, falando falsas palavras contra ele, e jurarão infâmias sobre eles”. Na idade do ferro, aidos (a palavra grega para o sentimento de reverência, e também para a vergonha que coíbe as pessoas de cometerem malfeitos) será cada vez mais notória, apenas por sua ausência.
Em sua reação à herança da Grécia pagã, a Europa cristã introduziu um terceiro elemento ao ciclo Hesiodíaco de declínio e queda: a redenção, a perspectiva de reversão cronológica das eras de ouro e de ferro. Santo Agostinho, por exemplo, introduziu um conceito linear de tempo que fluía da Cidade do Homem inferior, devorada por traços indeléveis de pecado original e, como a era de ferro de Hesíodo, endemicamente corrupta, à perfeição da Cidade de Deus, guiada pela igreja cristã, a vanguarda e a praça das armas. Da Idade Média até a Idade Moderna, contudo, o modelo predominante do fluxo de tempo estava mais próximo de Hesíodo do que de Santo Agostinho.
Durante a Renascença, as coisas mudam. Francis Bacon ousou visualizar a casa da lei de Salomão, a faculdade ideal em seu trabalho utópico New Atlantis, como a culminação da longa, vacilante e espinhosa escalada ascendente da humanidade a uma nova era de ouro. E numa tentativa de ir além da disputa entre antigos e modernos (querelle des anciens et des modernes), Isaac Newton tentou colocar varas em dois formigueiros em guerra, proclamando, numa carta a Robert Hooke em 5 de fevereiro de 1675: “Se vi mais longe, foi por me colocar sobre ombros de gigantes”.
Interessados em simplificar esta complicada história de entrecruzamentos, geminação, linhas de pensamento mutuamente inspiradoras e reciprocamente depreciativas, sugiro o ano de 1755 como o marco que separa as duas visões em competição. De um lado, a de declínio apocalítico, desde o início, de uma história projetada e guiada pelos homens. De outro, a emergência, isto é, a visão de progresso contínuo, essencialmente incontrolável. Naquele ano, a combinação de um terremoto, seguido de fogo e sucedido por um tsunami apagou a cidade de Lisboa da face da terra. Àquela altura, Lisboa era admirada e reverenciada como uma das cidadelas mais ricas e poderosas econômica e culturalmente daquilo que, por sua própria definição, constituía a vanguarda do mundo civilizado. Em poucas palavras, a natureza, agora acusada por sua indiscriminação endêmica, entorpecimento e estupidez moral, bem como indiferença à ética e valores humanos – aquela ordem estabelecida por Deus precisava ser tomado sob nova gestão humana.
A nova administração olhava à frente firme e resolutamente. “Novo” transformou-se na tautologia de “maior” e “melhor”, da mesma forma que “velho” tornou-se um pleonasmo para “fora de moda” e “ultrapassado”. No processo, isso transformou o vigente e vir-a-ser velho no reino da imperfeição condenável, destinado à deposição de lixo. E expandiu o espaço de novidades desejáveis e bem-vindas até que os mercados consumidores fizessem tudo instantaneamente. A vida tornou-se orientada para o futuro e ainda mais apressada.
Mas progressivamente, os sintomas sugerem que aquela era de gestão humana é mais uma aberração temporária do que um novo paradigma. Eu me sinto tentado a sugerir que quando percebida com o benefício da retrospecção, a “vida voltada ao futuro”, como posto por Ernst Block, entrará para os anais da história humana como um episódio na verdade pouco usual e por certo atípico – uma aventura romântica, fervorosamente apaixonada, mas breve.
Você está certo sobre quão significativo foi o terremoto de Lisboa. Talvez a resposta mais famosa – e que ecoa sua afirmação de que a resposta ao terremoto era para tomar a natureza abandonada por Deus sob gestão humana – é o Cândido, de Voltaire. A linha final, uma resposta aos apóstolos do progresso panglossiano, ressoa aqui: “Precisamos cultivar nosso jardim.” Ela exprime bem a ideia do Iluminismo, seugndo a qual a humanidade pode emergir de sua “tutela autorrealizada”, como colocado por Kant, a noção de que por meio de nossa própria razão (e não há/havia maior autoridade que nossa própria razão!) podemos agarrar as leis do mundo natural e social, e modelar o mundo de acordo com os nossos objetivos racionalmente escolhidos. Por que, então, no século 21, num tempo em que é nossa habilidade de administrar a natureza “para cultivar nosso jardim” para “viver voltados ao futuro” é mais forte que nunca, o projeto do Iluminismo (se é que posso chamá-lo assim) aparece como um “breve” interlúdio?
George Steiner disse certa vez que o privilégio de Voltaire, Diderot, Rousseau, Holbach, Condorcet e sua turma era sua ignorância: eles não sabiam o que sabemos e não podemos esquecer. A descendência da “Nova Jerusalém” de Isaias – relutantemente e não sem resistência – do futuro paradisíaco, fará isso a partir de Auschwitz, Kolyma e Hiroshima. Tudo isso foi fruto do cultivo entusiasmado e engenhoso do “nosso jardim”.
Você mesmo compara a relação progressiva com o tempo, e com a natureza, a um caso apaixonado. Você acha que, depois desse caso, estamos retornando à nossa prolongada relação com a temporalidade, o antigo, concepção de tempo quase teológica e alegórica, de queda e apocalipse, de decadência e redenção? Afinal, tanto ao ambientalismo quanto ao radicalismo islâmico, não falta a ideia de Fim dos Tempos.
Repito o que disse antes: o futuro (outrora a aposta segura para o investimento de esperanças) tem cada vez mais sabor de perigos indescritíveis (e recônditos!). Então, a esperança, enlutada, e desprovida de futuro, procura abrigo num passado outrora ridicularizado e condenado, morada de equívocos e superstições. Com as opções disponíveis entre ofertas de Tempo desacreditadas, cada qual carregando sua parte de horror, o fenômeno da “fadiga da imaginação”, a exaustão de opções, emerge. A aproximação do fim dos tempos pode ser ilógica, mas por certo não é inesperada.
terça-feira, 2 de maio de 2017
https://www.ecodebate.com.br/revista-cidadania-e-meio-ambiente/
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pesquisa aponta:
71% dos brasileiros, são contra reforma da Previdência e 64% acham que reforma Trabalhista só vai ajudar os patrões
Temer, seu governo e a base de apoio no Congresso Nacional têm a obrigação de dar respostas a tanto desmando e destruição dos direitos dos trabalhadores. É isso que diz pesquisa e Greve Geral realizada em todo o país, no dia 28 de abril, alcançando mais de 30 milhões de brasileiros.
Do site Alerta Social
Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha divulgada no domingo (30) aponta que:
- 71% dos brasileiros são contra a reforma da Previdência
- 83% é o índice de rejeição à reforma da Previdência entre os funcionários públicos
- 76% da população com ensino superior são contra a reforma da Previdência
- 73% das mulheres rejeitam a reforma da Previdência
- 64% dos entrevistados acham que a reforma Trabalhista vai privilegiar os empresários
- 63% dizem que a lei da terceirização só é boa para os patrões
- 31% consideram que não haverá mudança na atual situação de desemprego e igual parcela prevê que vagas serão fechadas
- 66% dos entrevistados acham que os preços de mercadorias e serviços devem subir com a ampliação da terceirização
Temer, seu governo e a base de apoio no Congresso Nacional têm a obrigação de dar respostas a tanto desmando e destruição dos direitos dos trabalhadores. É isso que diz pesquisa e Greve Geral realizada em todo o país, no dia 28 de abril, alcançando mais de 30 milhões de brasileiros.
Na Previdência
A proposta apresentada por Temer visa aumentar o tempo mínimo de contribuição e a idade mínima de aposentadoria para homens e mulheres. As projeções feitas por especialistas no assunto mostram que a maioria dos brasileiros, pelas novas regras propostas, morreria sem conseguir se aposentar.
Terceirização
A lei da terceirização, sancionada em 31 de março por Michel Temer, permite que uma empresa possa contratar outra para qualquer tipo de serviço.
Reforma Trabalhista
Com seu texto base aprovado na quarta-feira, 26, na Câmara dos Deputados, a Reforma Trabalhista poderá modificar de maneira substancial a a CLT. A reforma atinge muitos pontos, mas o ponto central altera a relação e a negociação entre trabalhadores e empresários. O negociado terá sobreposição sobre o legislado. E a contribuição sindical será facultativa.
As informações são de reportagem da Folha de S.Paulo.
Centrais prometem “ocupar Brasília” e miram Doria
IN DESTAQUES, NOTÍCIAS 2 maio, 2017
Em ato na avenida Paulista, realizado apesar dos esforços contrários do prefeito, líder da CUT convoca população a seguir em luta após greve geral
Três dias após a greve geral, que teve a adesão de 40 milhões de trabalhadores, as centrais sindicais voltaram às ruas do País contra as reformas de Michel Temer no Dia do Trabalhador. Em São Paulo, o Ato Político de Resistência do 1º de Maio, organizado pela CUT e as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, e a festa de feriado da Força Sindical foram marcados por avisos ao governo de que a pressão contra as reformas continuará.
Os sindicalistas da CUT e da Força também miraram o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que chamou os organizadores do movimento grevista da sexta-feira 28 de “vagabundos”. Na semana passada, Doria tentou, ainda, proibir judicialmente a manifestação da CUT desta segunda-feira 1º. Sua liminar foi derrubada pelo Tribunal de Justiça, mas, segundo a central, permaneceram as tentativas de barrar o protesto.
Segundo integrantes da CUT, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a serviço da prefeitura, tentou rebocar o caminhão da entidade e o da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) da Avenida Paulista, onde ocorreu a concentração dos manifestantes. Além disso, a CET teria tentado impedir que militantes do Partido da Causa Operária montassem bancas de distribuição de jornais.
Já na rua da Consolação, o carro de som da CUT foi barrado, dessa vez por policiais militares. A assessoria de imprensa da central afirmou que a PM não tinha justificativa clara, e mesmo assim detiveram o carro e os manifestantes seguiram sem ele.
Para o presidente da CUT de São Paulo, Douglas Izzo, a postura do prefeito tucano ajuda a fortalecer a resistência. “A administração pública, que deveria estar aqui para ajudar democraticamente na realização do evento, está para tentar inviabilizar. Mas nascemos na defesa da liberdade de expressão, na luta contra a repressão e continuaremos enfrentando todas as adversidades de todos os golpistas”, afirmou.
Apesar dos esforços contrários de Doria, a CUT reuniu 200 mil manifestantes, segundo a organização. A multidão caminhou até a Praça da República, onde os artistas Emicida, Mc Guimê, Leci Brandão, As Bahias e a Cozinha Mineira, Bixiga 70, Ilu Obá De Min, Sinhá Flor, Marquinhos Jaca e Mistura Popular realizaram apresentações.
Em outra frente, em ato na zona norte de São Paulo, a Força Sindical também disparou contra as reformas e o prefeito paulistano. Durante a festa de feriado da central, sindicalistas revezaram-se no palco para criticar o tucano. “Lave sua boca”, “o que você fez foi cretinice”, e “vagabundo é você” foram algumas das réplicas dos sindicalistas às críticas de Doria. A entidade estimou 700 mil presentes na festa de feriado
Além de se unirem contra o prefeito, as centrais afinaram o discurso contra as reformas de Temer. Em seu manifesto conjunto do dia do trabalho, CUT, Força e as demais entidades prometeram “ocupar Brasília” caso prosperem as medidas impopulares em tramitação no Congresso.
A ideia foi reforçada pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, neste feriado. “Temos que continuar, a greve demonstrou que estamos na ofensiva. Quando for pautada a reforma da Previdência, nós vamos ocupar Brasília e impedir a votação que retira nossos direitos. Estou convocando todas e todos a fazer a maior marcha que a classe trabalhadora já fez para impedir que tirem nossos direitos”.
No ato da Força Sindical, o deputado federal Paulinho da Força (SD-SP), por sua vez, sugeriu que a paralisação de sexta-feira 28 foi só o começo. “Se o governo não entendeu, vai ter mais”, afirmou o líder da central e ainda integrante da base aliada de Temer.
Está marcado para terça-feira 2 um encontro entre as centrais sindicais e o líder do PMDB no Senado, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), além do presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), para debater o destino da Reforma Trabalhista, aprovada na Câmara.
Em seguida, na quinta-feira 4, as organizações dos movimentos sindical e sociais se reunirão para discutir os próximos passos. As alternativas são uma marcha até a capital federal ou uma nova greve geral, sendo possível que ambas as ações aconteçam.
“Temer não tem mais legitimidade ou condições de governar o Brasil”, afirmou Freitas. “E Lula nos deu a senha ao dizer que ele tem tempo para esperar até 2018, mas os 14,5 milhões de trabalhadores não podem esperar, então é fora Temer, é diretas já”.
Freitas também defendeu a redemocratização dos meios de comunicação que, em sua maioria, deram pouco destaque à greve geral de 28 de abril, diferentemente de veículos internacionais. “Transformar a greve geral em assunto de trânsito é um crime contra a democracia”, disse.
Encerrando seu discurso de cima do carro de som ainda na Avenida Paulista, o presidente da CUT convocou todos os manifestantes a marchar em Brasília. “Temer apodrece e com ele não podemos deixar que apodreça o Brasil. Chegou a hora de tomarmos em nossas mãos nossos destino, de ter a classe trabalhadora como protagonista, e não essa minoria da elite conservadora brasileira que escraviza nosso povo, desrespeita a democracia, e tenta de maneira vil tirar nossos direitos. Mais importante do que a marcha de hoje até a Praça da República é a marcha até Brasília”.
Leia a íntegra do manifesto das centrais sindicais:
1º DE MAIO DE 2017 – A GREVE DE 28 DE ABRIL CONTINUA
O dia 28 de abril de 2017 entrará para a história do povo brasileiro como o dia em que a maioria esmagadora dos trabalhadores disse NÃO à PEC 287, que destrói o direito à aposentadoria, NÃO ao PL 6787, que rasga a CLT e NÃO à lei 4302, que permite a terceirização de todas as atividades de uma empresa!
Sob a palavra de ordem “Em 28 de abril vamos parar o Brasil” todas as centrais sindicais e suas bases se mobilizaram, de norte a sul do país, impulsionando uma imensa paralisação das atividades e grandes manifestações de protesto. Trabalhadores dos transportes urbanos, das fábricas, comércio, da construção civil, prestadores de serviços, escolas, órgãos públicos, bancos, portos e outros setores da economia cruzaram os braços. E este ato contou com o apoio dos movimentos sociais, como a UNE, de entidades da sociedade civil como a CNBB, a OAB, o Ministério Público do Trabalho, associações de magistrados e advogados trabalhistas, com o apoio dos nossos companheiros do movimento sindical internacional, e contou também com uma enorme simpatia popular.
Com nossa capacidade de organização, demos um recado contundente ao governo Temer e ao Congresso Nacional: exigimos que as propostas nefastas que tramitam em Brasília sejam retiradas. Não aceitamos perder nossos direitos previdenciários e trabalhistas.
Nos atos de todas as centrais sindicais pelo país neste 1º de Maio de 2017, dia do trabalhador, reafirmamos nosso compromisso de unidade para derrotar as propostas de reforma da previdência, da reforma trabalhista e da lei que permite a terceirização ilimitada.
O próximo passo é Ocupar Brasília para pressionar o governo e o Congresso a reverem seus planos de ataques aos sagrados direitos da classe trabalhadora. Sobre essa base, as centrais sindicais estão abertas, como sempre estiveram, ao diálogo.
Se isso não for suficiente assumimos, neste 1º de Maio, o compromisso de organizar uma reação ainda mais
forte.
VIVA A LUTA DA CLASSE TRABALHADORA! VIVA O 1º DE MAIO!
ABAIXO AS PROPOSTAS DE REFORMAS TRABALHISTA E DA PREVIDÊNCIA!
NENHUM DIREITO A MENOS!
Assinam os presidentes das centrais sindicais:
Antônio Neto, da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB)
Adilson Araújo, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)
Wagner Freitas, da Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Paulo Pereira da Silva, Paulinho, da Força Sindical
José Calixto Ramos, da Nova Central (NCST)
Ricardo Patah, da União Geral dos Trabalhadores (UGT)
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