Menos gente quer ser jornalista. O que o ensino tem
a dizer sobre mais essa “crise”
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Edição 1227
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por Rodrigo Ratier
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(Foto: Microgen/Getty Images Pro)
O Emerson College é uma das mais prestigiosas escolas de jornalismo dos
Estados Unidos. Vocacionada para a prática, é a principal instituição formadora
de jornalistas para as emissoras de TV de Boston e arredores. Mas a solidez da
instituição não tem sido páreo para a tendência observada na última década: há
cada vez menos candidatos dispostos a cursar a graduação em jornalismo. A
pandemia só agravou a situação. Dos habituais 150 formandos anuais, o Emerson
College hoje forma pouco mais de metade desse montante, me contaram os
professores da faculdade durante uma visita à instituição em fevereiro último.
Por aqui no Brasil, não é diferente. Instituições de renome, como PUC e
Cásper Líbero, ambas em São Paulo, têm dificuldades para fechar turmas ou
enfrentam acentuado declínio no número de candidatos. Na ponta, digamos, mais
“massiva” da formação, faculdades com mensalidades a preços populares têm
fechado cursos ou migrado integralmente para a modalidade a distância.
Decerto a crise econômica e a percepção de uma atividade com
empregabilidade e remuneração declinantes respondem por uma parcela do
decréscimo, mas o problema não se restringe ao setor privado. Na Universidade
de São Paulo, a relativa estabilidade na relação candidato-vaga do curso de
jornalismo esconde a diminuição da oferta – de 60 vagas para 48 e, mais
recentemente, 42. Nesse caso, para aferir a demanda, o melhor indicador é o
número total de vestibulandos que buscam o curso a cada ano.
Nos últimos 10 anos, há dois momentos distintos: o primeiro, de queda
acentuada, vai de 2014 a 2019. O segundo, de relativa estabilidade em um
patamar mais baixo, vai de 2019 até 2023. No cardápio de cursos da USP,
jornalismo segue tendo uma procura relevante, na casa dos 30 candidatos por
vaga. Mas há tempos deixou a lista de graduações com mais de 2 mil
vestibulandos, tendo registrado entre os pontos inicial e final do gráfico – os
anos de 2014 e 2023 – um decréscimo de 48% na procura (veja tabela
abaixo):
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