Biólogo adverte: atiçados pelos lucros do cultivo, grandes fazendeiros já planejam drenar e devastar um dos mais ricos biomas brasileiros
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IHU entrevista Pierre Girard
Apesar de o cultivo de soja não
ter se expandido pelo Pantanal no mesmo ritmo em que esse tipo
de cultura se desenvolveu em outros ecossistemas, nos dois biomas que contornam
as áreas alagadas do Pantanal, o Cerrado e a Amazônia, crescem os
cultivos de soja e o uso de fertilizantes, diz o geólogo Pierre Girard à IHU
On-Line. Segundo ele, embora a plantação de soja não seja “um sucesso” nas
áreas alagadas por conta da dinâmica ecológica da região, ainda assim há
interesse pelo plantio dessa cultura em virtude da “terra plana” e da
“rentabilidade da soja ser bastante grande”.
Na entrevista a
seguir, concedida pessoalmente à IHU On-Line, Girard explica que é possível
drenar as terras pantaneiras para viabilizar o cultivo de grãos.
Contudo, antes de adotar essa prática, pontua, a questão “é saber por
quanto tempo a soja será rentável, porque a história nos mostra que o Brasil já
passou por vários ciclos, e agora estamos no ciclo da soja, mas ninguém sabe se
esse será um ciclo perene, se irá se manter por 25 anos, ou se de repente, por
uma razão qualquer, os chineses decidirem não mais comer carne e, com isso, não
precisarão mais da nossa soja para alimentar suas galinhas e porcos”.
O pesquisador
também comenta e critica o desenvolvimento e a construção das Pequenas Centrais Hidrelétricas –
PCHs no Pantanal e adverte que o “princípio de precaução, que é
uma postura ética frente ao impacto sobre o meio ambiente, deve ser levado em
conta. Se nada for feito, essas pequenas centrais hidrelétricas vão gerar
muitos impactos”.
Pierre Girard é professor da graduação e da
pós-graduação do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato
Grosso – UFMT. É graduado em Geologia pela McGill University, no Canadá, mestre
em Geologia Dinâmica, com enfoque em hidrologia, pela Université Pierre et
Marie Curie, Paris VI e Écoles des Mines de Paris, e doutor em Hidrologia
Isotópica pela Université du Québec à Montréal – UQAM.
Na noite de
ontem, 20-03-2017, ele proferiu a conferência Pantanal brasileiro:
características, biodiversidade e delimitações para a sua proteção, dentro da
programação do evento Os biomas brasileiros e a teia da
vida, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Veja a programação.
IHU
On-Line – Ao comentar os fatores que ameaçam o Pantanal hoje, o senhor
mencionou o aumento do desmatamento e o uso de pesticidas e fertilizantes. A que
se deve isso? A agricultura, especialmente a soja, tem sido introduzida no
Pantanal?
Foto
Pierre Girard – Na planície pantaneira não existe
ainda muita plantação de soja nem agricultura mecanizada, porque a inundação
anual não facilita esse tipo de agricultura, embora esse tipo de plantação
esteja se estabelecendo aos poucos na borda do Pantanal. A pecuária extensiva
foi se desenvolvendo ali justamente porque é possível remover o gado
quando há inundações.
Para estabelecer
a agricultura no Pantanal, é preciso desenvolver um trabalho de drenagem.
Algumas pessoas começaram a fazer isso na região de Cáceres (MT), em uma área
relativamente grande, de nove mil hectares, de uma forma não muito bem
regularizada, e com todas as dificuldades técnicas que o desenvolvimento
dessa atividade implica. Então, para produzir soja na região, é preciso
fazer investimentos e uma manutenção constante no sistema de drenagem.
Hoje em dia
pensamos que os agricultores estão lucrando com a agricultura, mas quem está
lucrando mais são as pessoas que fornecem as máquinas e os insumos agrícolas.
Então, a plantação de soja ainda não é, nem foi um sucesso nessa região, apesar
de o Mato Grosso ser
um estado que dá apoio aos agricultores.
Mas isso não
quer dizer que não existam pesticidas no Pantanal. Na verdade nós não
sabemos muito sobre isso, porque não há programas de monitoramento, mas sabemos
que nas regiões em volta do Pantanal tem bastante soja. No Cerrado e em toda a
região do planalto que está junto ao Pantanal, tem muita soja, milho, e para
manter essas plantações são utilizados muitos fertilizantes, como Roundup. Esses
pesticidas já foram encontrados em sedimentos, ao serem analisados por
programas de pesquisa. O que sabemos é que quanto mais perto esses pesticidas
estão do Pantanal, mais provável é que eles passem a estar no próprio Pantanal.
Agora, para termos mais informações, seria preciso ter programas de
monitoramento, porque o Pantanal é um patrimônio nacional. Essa questão teria
que ser pensada pelo poder público, porque as universidades acompanham a
situação da região, mas não é missão da universidade fazer monitoramento da
qualidade da água do Pantanal.
Apesar
das dificuldades em desenvolver a agricultura no Pantanal, o senhor percebe que
há um interesse dos agricultores em desenvolver o cultivo de grãos, por
exemplo, na região? Por que há esse interesse?
Porque tem terra
plana e extensa e porque a rentabilidade da soja é bastante grande, ou seja,
trata-se de uma operação comercial. Então, uma vez que se faça o processo de
drenagem da terra, um investimento inicial e a manutenção constante, os
agricultores veem uma rentabilidade no cultivo de soja.
A questão toda é
saber por quanto tempo a soja será rentável, porque a história nos mostra que o
Brasil já passou por vários ciclos e agora estamos no ciclo da soja, mas
ninguém sabe se esse será um ciclo perene, se irá se manter por 25 anos, ou se
de repente, por uma razão qualquer, os chineses decidirem não mais comer carne
e, com isso, não precisarão mais da nossa soja para alimentar suas galinhas e
porcos. Essas são coisas que podem acontecer.
A
expansão de soja para o Cerrado e para a Amazônia impacta o Pantanal de algum
modo?
Impacta de forma
indireta. No Cerrado, a plantação de
soja ocorre na bacia do Alto Paraguai; ou
seja, na mesma região em que nascem os afluentes dos rios que formam a planície
alagada do Pantanal, há cultivo intensivo de soja e também de pasto. Nos anos
80 houve formação de pasto na região do rio Taquari, o que causou muita erosão
e transporte de sedimentos e resultou no assoreamento da planície do rio.
Na Amazônia a situação
é um pouco diferente, porque a chuva que ocorre tanto no Rio Grande do
Sul como no Pantanal, depende da Amazônia. Então, à medida que se desmata
a Amazônia para se plantar pasto ou soja, as chuvas diminuem, isso porque essas
novas plantações não têm a mesma capacidade de gerar chuva que a floresta tem.
Então, o Pantanal, para existir, depende do ciclo das águas, ou seja, tem que
chover bem durante uma parte do ano para que o Pantanal exista. Em Cuiabá, por
exemplo, às vezes ficamos 120 dias sem chuva; 90 dias é bastante comum. Se a
chuva minguar durante o período das cheias, não tem inundação, e se não tem
inundação, não tem mais Pantanal. É a inundação anual que faz com que o
Pantanal seja como ele é. Desde a década de 70 o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais – INPE já mostrou que as chuvas no Sul, no Centro-Oeste e
no Sudeste dependem da Amazônia.
O arco do desmatamento da Amazônia vem pelo Norte do Mato Grosso, pelo
Sul do Pará, e por Rondônia, que já foi conhecida como o estado da floresta,
mas é hoje o estado do pasto. Então, o ritmo de desmatamento é bem grande, e, à
medida que enviamos a fronteira da floresta mais para o Norte, a tendência é
que tenhamos efeitos ao Sul: é como se estivéssemos colocando a floresta mais
longe de nós e a consequência disso é que estamos perdendo umidade. Se você vai
a uma floresta nova, de aproximadamente 30 anos, em Mato Grosso, e conversa com
as pessoas, elas afirmam que há 20 anos chovia mais. É claro que ao redor das
cidades, onde há mais florestas, chove mais, mas dentro da cidade, não.
Há
incentivos fiscais por parte dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
para que esses investimentos agrícolas aconteçam na região?
Que eu saiba não
há incentivos diretos na forma de um programa, como ocorreu nos anos 70 para
abrir o Cerrado, via o Proálcool, por exemplo. Apesar
disso, as pessoas decidem investir na agricultura por conta da rentabilidade, porque
veem isso como uma operação comercial. Como todo mundo sabe que a rentabilidade
da soja é grande, é fácil conseguir dinheiro para iniciar essa atividade e na
sequência estabelecer uma fazenda e começar a produção. Muitas pessoas que
vivem em cidades como Lucas de Rio Verde (MT) fizeram isso: migraram
quando o Cerrado já estava aberto para produção agrícola, mas ainda tinha
terra, e investiram nesse tipo de atividade. Hoje em dia a situação é mais
difícil, porque a terra é muito mais cara nessas regiões. Na fronteira com a
Amazônia, a terra não tem tanto valor, mas há um movimento de expansão que é
ligado ao capital.
Um tema
que tem sido denunciado no Brasil é a compra de terras brasileiras por grupos
estrangeiros. Isso tem ocorrido no Pantanal?
Isso acontece na
borda do Pantanal e no Cerrado, com certeza. No Pantanal existem muitas pessoas
que têm fazendas imensas, nas quais há recursos de ativos de estrangeiros. ONGs
internacionais também compraram terras no Pantanal. A ideia dessas ONGs é
promover a conservação, mas elas podem receber ativos de estrangeiros, de
fundos internacionais etc. Eu acredito que não há muito interesse por terras
para desenvolver a pecuária como uma operação comercial, porque o gado do
Pantanal não é muito rentável. Como a produção agrícola também é baixa, é menos
provável que se compre terra para investir nessa finalidade. Existem algumas
minas no Pantanal sul, e uma parte delas deve ter relações com ativos
estrangeiros, e o mesmo deve ocorrer com a terra onde estão essas minas.
É provável que
se fizéssemos um levantamento fundiário,
conseguiríamos saber que percentual de terras já foi adquirido por empresas
estrangeiras, mas não é fácil de mapeá-las. Por exemplo, um amigo meu está
fazendo um levantamento na região e só conseguiu ter acesso de quem são os
donos de 75% das terras do Pantanal. Ou seja, não é fácil saber de quem é a
terra. Isso se deve, em parte, porque estamos falando de um território de 140
mil quilômetros quadrados, ou seja, de uma extensão que é mais ou menos do
tamanho da Inglaterra. Além disso, as ocupações dessas terras são antigas e a
propriedade da terra se perde no tempo.
As terras em
geral no Pantanal servem para pecuária e para o turismo: fazendas imensas que
trabalham com pecuária também estão desenvolvendo o turismo. A mineração ocupa
pouco espaço no Pantanal. Então, acredito que os estrangeiros estão comprando
terra ou via ONGs, para preservá-las, ou para investir no turismo, porque há
uma possibilidade de que esse tipo de atividade seja interessante para o
Pantanal.
Outra
fonte de ameaça ao Pantanal são as barragens e as Pequenas Centrais
Hidrelétricas – PCHs. Quantas existem ao longo do bioma e quais suas
implicações para o sistema fluvial e o ciclo hidrológico?
Esse é um tema
que estudo mais diretamente. Quando falamos de pequenas centrais hidrelétricas,
todo mundo pensa que essas PCHs são de fato
pequenas. No entanto, temos que entender que a dimensão de uma PCH é de até 30
mil megawatts em termos de produção de energia, e elas têm um plano de água de
13 quilômetros quadrados; ou seja, inunda-se uma terra relativamente grande
para desenvolver as PCHs, o que indica que elas não são tão pequenas assim.
Como hoje quase
todos os potenciais hidrológicos já foram aproveitados, especialmente nas
regiões em que havia grandes quedas d’água, para viabilizar as PCHs é preciso
construir um muro grande no rio para a água cair do alto, ou seja, são
construídos muros de 20 metros de altura, o que nos indica que não são muros
tão pequenos. Digo isso para desfazer essa ideia de que as PCHs são pequenas.
Hoje em dia
existem quatro ou cinco grandes hidrelétricas no Pantanal, que não se encaixam
nesse modelo de PCHs. No total existem 41 PCHs em funcionamento na bacia do
Alto Paraguai, que é a região que abastece o Pantanal, ou seja, onde os rios
formadores começam. Além dessas, outras 96 PCHs foram planejadas ou estão em
construção.
Essa
região comporta todas essas PCHs?
Se a Agência
Nacional de Energia Elétrica – ANEEL designou a construção delas, deve ter
algum lugar para construí-las. Ainda não se sabe se todas de fato serão
construídas, porque tudo isso depende de operações comerciais, mas o fato é que
todas as áreas com potenciais de gerar energia já estão demarcadas. A questão é
que são muitas PCHs para pouca coisa: cada uma das 41 PCHs produz aproximadamente
1.100 megawatts de energia, e essas 96 que serão construídas vão produzir menos
do que isso. Estima-se que elas produzirão 900 megawatts de energia, ou seja,
cada uma vai ter uma produção de energia muito pequena.
O problema é que
não conhecemos os impactos cumulativos de todas essas centrais. Uma pequena
central hidrelétrica não precisa obrigatoriamente realizar um estudo de impacto
ambiental, segundo determina a Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso e a
Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental – Imasul de Mato Grosso do
Sul. Mesmo assim, se o estudo de impacto ambiental for feito, ele será local, e
mesmo que fossem apontados impactos, não poderíamos sugerir que uma determinada
PCH fosse instalada em outro local, porque o que determina a região em que a
PCH será construída, é a área potencial para gerar energia. Nesse sentido, a
ANEEL já determinou os locais em que as PCHs deverão ser construídas.
De todo modo, os impactos cumulativos não
são vistos no estudo de impacto ambiental e ainda não temos nenhuma estratégia
implementada para verificar esses efeitos. Apesar disso, podemos observar que
cada uma dessas PCHs gera um impacto sobre a rota dos peixes, que muitas vezes
são comercializados: na bacia do Paraná quase não existem mais peixes para
serem pescados, o que indica que na parte do Alto Paraguai é provável que
aconteça o mesmo. Cada uma dessas barragens gera um impacto sobre a hidrologia
dos rios. Será que isso será suficiente para causar algum impacto no Pantanal
de modo geral? Essa é uma questão a ser estudada. Mas com certeza cada uma
dessas barragens capta sedimentos e nutrientes que deveriam chegar ao Pantanal,
e os efeitos disso são conhecidos no resto do mundo: quando tiramos sedimentos
dos rios, eles vão invadir outro lugar. Então, se o Pantanal é uma planície de
deposição e começa a ser erodido, isso terá impactos. Mas a questão é que não temos
estudos para prever isso por enquanto.
De todo modo, se
esperarmos que todas as PCHs sejam construídas, será tarde demais para voltar
atrás. Então, o princípio de precaução, que é uma postura ética frente ao
impacto sobre o meio ambiente, deve ser levado em conta. Se nada for feito,
essas pequenas centrais hidrelétricas vão gerar muitos impactos. Quando iniciei
minha pesquisa sobre as PCHs, em 2002, existiam nove PCHs; hoje, são mais de
40. Ou seja, trata-se de uma operação lucrativa, porque o Estado facilita o
financiamento desse tipo de empreendimento e garante a compra de energia.
E esse
tipo de PCH gera algum benefício para a população local?
Muito pouco, só
durante a construção, porque boa parte da mão de obra já vem junto com a
construtora responsável pela obra. Depois que a PCH está pronta, são
contratadas três pessoas que serão responsáveis por operar a central
hidrelétrica. Portanto, não tem benefício econômico local, porque a ideia é
ligar essas PCHs com o Sistema Interligado Nacional.
A maior parte
das PCHs está em Mato Grosso, mas não é
essa a região que tem maior demanda de energia elétrica, ao contrário, são as
regiões sul e sudeste que precisam de mais energia. Além do mais, essas PCHs
vão gerar pouca energia, portanto nos períodos de seca não vão auxiliar o
Brasil, porque elas são a fio d’água, ou seja, não têm reservatório para
armazenar água por longos períodos. Então nos perguntamos se vale a pena o país
comprometer a integridade ecológica do Pantanal para ter esse retorno
energético tão baixo. Não seria melhor o Brasil investir em energia solar? A
geração de energia a partir do bagaço de cana-de-açúcar já produz mais energia
do que a que será gerada por essas PCHs.
Alguns
ambientalistas têm dito que há mais políticas públicas para outros
ecossistemas, como a Amazônia, mas faltam políticas públicas para biomas como o
Pantanal. Concorda com essa crítica?
Concordo, mas
existem razões para isso, por exemplo, o espaço midiático da Amazônia é muito
maior, assim como o espaço político que a Amazônia ocupa é muito maior em
relação ao Pantanal.
Se olharmos o tamanho da Amazônia no Brasil e na América do Sul, e o
tamanho do Pantanal em território, veremos que há muita diferença: o Pantanal
representa 4% do país, enquanto a Amazônia ocupa praticamente 30% do
território.
Se perdermos o
Pantanal, os impactos serão muito mais locais. Obviamente seria uma tragédia
para quem vive lá, mas se perdermos a Amazônia, será uma tragédia para toda
a América do Sul. Embora exista muito mais espaço político para a
Amazônia, nada impede que se dê a devida atenção para o Pantanal. O Estado
brasileiro assumiu um compromisso com o Pantanal há 30 anos, ao considerá-lo
patrimônio nacional, mas até hoje não existe uma lei para a região, e o Estado
quase perdeu o título de reserva da Biosfera porque não fazia nada pelo bioma.
Então, nesse sentido, há um déficit de atenção.
As
mudanças climáticas já estão impactando o Pantanal?
O Pantanal,
nessa questão que é ligada às mudanças climáticas, tem uma função interessante:
como é uma planície alagada, no Pantanal evapora bastante água, e para
evaporar, a água precisa de calor, assim, de certa forma, o Pantanal funciona
como um sistema de refrigeração. Mas aí você vai perguntar como o Pantanal
funciona como um sistema de refrigeração, se lá faz tanto calor. O ponto é que sem
água, o calor seria ainda mais intenso e a seca seria ainda mais dura.
Justamente por isso, é fundamental preservar esse regime hidrológico no Pantanal com inundações extensas. O aquecimento
global, nos próximos anos, vai aumentar muito as ondas de calor e a tendência é
que o mesmo ocorra no Pantanal. Então, dado que o Pantanal é suscetível a
mudanças climáticas, temos que preservá-lo, e essa preservação pode ser feita
com o envolvimento das populações locais, que serão as mais atingidas.
Já é
possível perceber essas alterações de temperatura no Pantanal por conta das
mudanças climáticas?
O que percebemos
mais é o aumento da estação de seca e o deslocamento do período de início da
temporada de chuvas, que têm começado mais tarde. Essas mudanças se referem às
alterações relacionadas à mudança climática. Além disso, os registros de 100
anos atrás mostram que em cidades como Campo Grande e Cuiabá houve um aumento
de um grau na temperatura. Se os nossos amigos do INPE estão certos, a temperatura continuará aumentando [risos].
Assista na
íntegra a conferência proferida pelo professor Pierre Girard:
Biólogo adverte: atiçados pelos lucros do
cultivo, grandes fazendeiros já planejam drenar e devastar um dos mais ricos
biomas brasileiros
IHU entrevista Pierre Girard
Apesar de o cultivo de soja não
ter se expandido pelo Pantanal no mesmo ritmo em que esse tipo
de cultura se desenvolveu em outros ecossistemas, nos dois biomas que contornam
as áreas alagadas do Pantanal, o Cerrado e a Amazônia, crescem os
cultivos de soja e o uso de fertilizantes, diz o geólogo Pierre Girard à IHU
On-Line. Segundo ele, embora a plantação de soja não seja “um sucesso” nas
áreas alagadas por conta da dinâmica ecológica da região, ainda assim há
interesse pelo plantio dessa cultura em virtude da “terra plana” e da
“rentabilidade da soja ser bastante grande”.
Na entrevista a
seguir, concedida pessoalmente à IHU On-Line, Girard explica que é possível
drenar as terras pantaneiras para viabilizar o cultivo de grãos.
Contudo, antes de adotar essa prática, pontua, a questão “é saber por
quanto tempo a soja será rentável, porque a história nos mostra que o Brasil já
passou por vários ciclos, e agora estamos no ciclo da soja, mas ninguém sabe se
esse será um ciclo perene, se irá se manter por 25 anos, ou se de repente, por
uma razão qualquer, os chineses decidirem não mais comer carne e, com isso, não
precisarão mais da nossa soja para alimentar suas galinhas e porcos”.
O pesquisador
também comenta e critica o desenvolvimento e a construção das Pequenas Centrais Hidrelétricas –
PCHs no Pantanal e adverte que o “princípio de precaução, que é
uma postura ética frente ao impacto sobre o meio ambiente, deve ser levado em
conta. Se nada for feito, essas pequenas centrais hidrelétricas vão gerar
muitos impactos”.
Pierre Girard é professor da graduação e da
pós-graduação do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato
Grosso – UFMT. É graduado em Geologia pela McGill University, no Canadá, mestre
em Geologia Dinâmica, com enfoque em hidrologia, pela Université Pierre et
Marie Curie, Paris VI e Écoles des Mines de Paris, e doutor em Hidrologia
Isotópica pela Université du Québec à Montréal – UQAM.
Na noite de
ontem, 20-03-2017, ele proferiu a conferência Pantanal brasileiro:
características, biodiversidade e delimitações para a sua proteção, dentro da
programação do evento Os biomas brasileiros e a teia da
vida, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Veja a programação.
IHU
On-Line – Ao comentar os fatores que ameaçam o Pantanal hoje, o senhor
mencionou o aumento do desmatamento e o uso de pesticidas e fertilizantes. A que
se deve isso? A agricultura, especialmente a soja, tem sido introduzida no
Pantanal
Pierre Girard – Na planície pantaneira não existe
ainda muita plantação de soja nem agricultura mecanizada, porque a inundação
anual não facilita esse tipo de agricultura, embora esse tipo de plantação
esteja se estabelecendo aos poucos na borda do Pantanal. A pecuária extensiva
foi se desenvolvendo ali justamente porque é possível remover o gado
quando há inundações.
Para estabelecer
a agricultura no Pantanal, é preciso desenvolver um trabalho de drenagem.
Algumas pessoas começaram a fazer isso na região de Cáceres (MT), em uma área
relativamente grande, de nove mil hectares, de uma forma não muito bem
regularizada, e com todas as dificuldades técnicas que o desenvolvimento
dessa atividade implica. Então, para produzir soja na região, é preciso
fazer investimentos e uma manutenção constante no sistema de drenagem.
Hoje em dia
pensamos que os agricultores estão lucrando com a agricultura, mas quem está
lucrando mais são as pessoas que fornecem as máquinas e os insumos agrícolas.
Então, a plantação de soja ainda não é, nem foi um sucesso nessa região, apesar
de o Mato Grosso ser
um estado que dá apoio aos agricultores.
Mas isso não
quer dizer que não existam pesticidas no Pantanal. Na verdade nós não
sabemos muito sobre isso, porque não há programas de monitoramento, mas sabemos
que nas regiões em volta do Pantanal tem bastante soja. No Cerrado e em toda a
região do planalto que está junto ao Pantanal, tem muita soja, milho, e para
manter essas plantações são utilizados muitos fertilizantes, como Roundup. Esses
pesticidas já foram encontrados em sedimentos, ao serem analisados por
programas de pesquisa. O que sabemos é que quanto mais perto esses pesticidas
estão do Pantanal, mais provável é que eles passem a estar no próprio Pantanal.
Agora, para termos mais informações, seria preciso ter programas de
monitoramento, porque o Pantanal é um patrimônio nacional. Essa questão teria
que ser pensada pelo poder público, porque as universidades acompanham a
situação da região, mas não é missão da universidade fazer monitoramento da
qualidade da água do Pantanal.
Apesar
das dificuldades em desenvolver a agricultura no Pantanal, o senhor percebe que
há um interesse dos agricultores em desenvolver o cultivo de grãos, por
exemplo, na região? Por que há esse interesse?
Porque tem terra
plana e extensa e porque a rentabilidade da soja é bastante grande, ou seja,
trata-se de uma operação comercial. Então, uma vez que se faça o processo de
drenagem da terra, um investimento inicial e a manutenção constante, os
agricultores veem uma rentabilidade no cultivo de soja.
A questão toda é
saber por quanto tempo a soja será rentável, porque a história nos mostra que o
Brasil já passou por vários ciclos e agora estamos no ciclo da soja, mas
ninguém sabe se esse será um ciclo perene, se irá se manter por 25 anos, ou se
de repente, por uma razão qualquer, os chineses decidirem não mais comer carne
e, com isso, não precisarão mais da nossa soja para alimentar suas galinhas e
porcos. Essas são coisas que podem acontecer.
A
expansão de soja para o Cerrado e para a Amazônia impacta o Pantanal de algum
modo?
Impacta de forma
indireta. No Cerrado, a plantação de
soja ocorre na bacia do Alto Paraguai; ou
seja, na mesma região em que nascem os afluentes dos rios que formam a planície
alagada do Pantanal, há cultivo intensivo de soja e também de pasto. Nos anos
80 houve formação de pasto na região do rio Taquari, o que causou muita erosão
e transporte de sedimentos e resultou no assoreamento da planície do rio.
Na Amazônia a situação
é um pouco diferente, porque a chuva que ocorre tanto no Rio Grande do
Sul como no Pantanal, depende da Amazônia. Então, à medida que se desmata
a Amazônia para se plantar pasto ou soja, as chuvas diminuem, isso porque essas
novas plantações não têm a mesma capacidade de gerar chuva que a floresta tem.
Então, o Pantanal, para existir, depende do ciclo das águas, ou seja, tem que
chover bem durante uma parte do ano para que o Pantanal exista. Em Cuiabá, por
exemplo, às vezes ficamos 120 dias sem chuva; 90 dias é bastante comum. Se a
chuva minguar durante o período das cheias, não tem inundação, e se não tem
inundação, não tem mais Pantanal. É a inundação anual que faz com que o
Pantanal seja como ele é. Desde a década de 70 o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais – INPE já mostrou que as chuvas no Sul, no Centro-Oeste e
no Sudeste dependem da Amazônia.
O arco do desmatamento da Amazônia vem pelo Norte do Mato Grosso, pelo
Sul do Pará, e por Rondônia, que já foi conhecida como o estado da floresta,
mas é hoje o estado do pasto. Então, o ritmo de desmatamento é bem grande, e, à
medida que enviamos a fronteira da floresta mais para o Norte, a tendência é
que tenhamos efeitos ao Sul: é como se estivéssemos colocando a floresta mais
longe de nós e a consequência disso é que estamos perdendo umidade. Se você vai
a uma floresta nova, de aproximadamente 30 anos, em Mato Grosso, e conversa com
as pessoas, elas afirmam que há 20 anos chovia mais. É claro que ao redor das
cidades, onde há mais florestas, chove mais, mas dentro da cidade, não.
Há
incentivos fiscais por parte dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
para que esses investimentos agrícolas aconteçam na região?
Que eu saiba não
há incentivos diretos na forma de um programa, como ocorreu nos anos 70 para
abrir o Cerrado, via o Proálcool, por exemplo. Apesar
disso, as pessoas decidem investir na agricultura por conta da rentabilidade, porque
veem isso como uma operação comercial. Como todo mundo sabe que a rentabilidade
da soja é grande, é fácil conseguir dinheiro para iniciar essa atividade e na
sequência estabelecer uma fazenda e começar a produção. Muitas pessoas que
vivem em cidades como Lucas de Rio Verde (MT) fizeram isso: migraram
quando o Cerrado já estava aberto para produção agrícola, mas ainda tinha
terra, e investiram nesse tipo de atividade. Hoje em dia a situação é mais
difícil, porque a terra é muito mais cara nessas regiões. Na fronteira com a
Amazônia, a terra não tem tanto valor, mas há um movimento de expansão que é
ligado ao capital.
Um tema
que tem sido denunciado no Brasil é a compra de terras brasileiras por grupos
estrangeiros. Isso tem ocorrido no Pantanal?
Isso acontece na
borda do Pantanal e no Cerrado, com certeza. No Pantanal existem muitas pessoas
que têm fazendas imensas, nas quais há recursos de ativos de estrangeiros. ONGs
internacionais também compraram terras no Pantanal. A ideia dessas ONGs é
promover a conservação, mas elas podem receber ativos de estrangeiros, de
fundos internacionais etc. Eu acredito que não há muito interesse por terras
para desenvolver a pecuária como uma operação comercial, porque o gado do
Pantanal não é muito rentável. Como a produção agrícola também é baixa, é menos
provável que se compre terra para investir nessa finalidade. Existem algumas
minas no Pantanal sul, e uma parte delas deve ter relações com ativos
estrangeiros, e o mesmo deve ocorrer com a terra onde estão essas minas.
É provável que
se fizéssemos um levantamento fundiário,
conseguiríamos saber que percentual de terras já foi adquirido por empresas
estrangeiras, mas não é fácil de mapeá-las. Por exemplo, um amigo meu está
fazendo um levantamento na região e só conseguiu ter acesso de quem são os
donos de 75% das terras do Pantanal. Ou seja, não é fácil saber de quem é a
terra. Isso se deve, em parte, porque estamos falando de um território de 140
mil quilômetros quadrados, ou seja, de uma extensão que é mais ou menos do
tamanho da Inglaterra. Além disso, as ocupações dessas terras são antigas e a
propriedade da terra se perde no tempo.
As terras em
geral no Pantanal servem para pecuária e para o turismo: fazendas imensas que
trabalham com pecuária também estão desenvolvendo o turismo. A mineração ocupa
pouco espaço no Pantanal. Então, acredito que os estrangeiros estão comprando
terra ou via ONGs, para preservá-las, ou para investir no turismo, porque há
uma possibilidade de que esse tipo de atividade seja interessante para o
Pantanal.
Outra
fonte de ameaça ao Pantanal são as barragens e as Pequenas Centrais
Hidrelétricas – PCHs. Quantas existem ao longo do bioma e quais suas
implicações para o sistema fluvial e o ciclo hidrológico?
Esse é um tema
que estudo mais diretamente. Quando falamos de pequenas centrais hidrelétricas,
todo mundo pensa que essas PCHs são de fato
pequenas. No entanto, temos que entender que a dimensão de uma PCH é de até 30
mil megawatts em termos de produção de energia, e elas têm um plano de água de
13 quilômetros quadrados; ou seja, inunda-se uma terra relativamente grande
para desenvolver as PCHs, o que indica que elas não são tão pequenas assim.
Como hoje quase
todos os potenciais hidrológicos já foram aproveitados, especialmente nas
regiões em que havia grandes quedas d’água, para viabilizar as PCHs é preciso
construir um muro grande no rio para a água cair do alto, ou seja, são
construídos muros de 20 metros de altura, o que nos indica que não são muros
tão pequenos. Digo isso para desfazer essa ideia de que as PCHs são pequenas.
Hoje em dia
existem quatro ou cinco grandes hidrelétricas no Pantanal, que não se encaixam
nesse modelo de PCHs. No total existem 41 PCHs em funcionamento na bacia do
Alto Paraguai, que é a região que abastece o Pantanal, ou seja, onde os rios
formadores começam. Além dessas, outras 96 PCHs foram planejadas ou estão em
construção.
Essa
região comporta todas essas PCHs?
Se a Agência
Nacional de Energia Elétrica – ANEEL designou a construção delas, deve ter
algum lugar para construí-las. Ainda não se sabe se todas de fato serão
construídas, porque tudo isso depende de operações comerciais, mas o fato é que
todas as áreas com potenciais de gerar energia já estão demarcadas. A questão é
que são muitas PCHs para pouca coisa: cada uma das 41 PCHs produz aproximadamente
1.100 megawatts de energia, e essas 96 que serão construídas vão produzir menos
do que isso. Estima-se que elas produzirão 900 megawatts de energia, ou seja,
cada uma vai ter uma produção de energia muito pequena.
O problema é que
não conhecemos os impactos cumulativos de todas essas centrais. Uma pequena
central hidrelétrica não precisa obrigatoriamente realizar um estudo de impacto
ambiental, segundo determina a Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso e a
Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental – Imasul de Mato Grosso do
Sul. Mesmo assim, se o estudo de impacto ambiental for feito, ele será local, e
mesmo que fossem apontados impactos, não poderíamos sugerir que uma determinada
PCH fosse instalada em outro local, porque o que determina a região em que a
PCH será construída, é a área potencial para gerar energia. Nesse sentido, a
ANEEL já determinou os locais em que as PCHs deverão ser construídas.
De todo modo, os impactos cumulativos não
são vistos no estudo de impacto ambiental e ainda não temos nenhuma estratégia
implementada para verificar esses efeitos. Apesar disso, podemos observar que
cada uma dessas PCHs gera um impacto sobre a rota dos peixes, que muitas vezes
são comercializados: na bacia do Paraná quase não existem mais peixes para
serem pescados, o que indica que na parte do Alto Paraguai é provável que
aconteça o mesmo. Cada uma dessas barragens gera um impacto sobre a hidrologia
dos rios. Será que isso será suficiente para causar algum impacto no Pantanal
de modo geral? Essa é uma questão a ser estudada. Mas com certeza cada uma
dessas barragens capta sedimentos e nutrientes que deveriam chegar ao Pantanal,
e os efeitos disso são conhecidos no resto do mundo: quando tiramos sedimentos
dos rios, eles vão invadir outro lugar. Então, se o Pantanal é uma planície de
deposição e começa a ser erodido, isso terá impactos. Mas a questão é que não temos
estudos para prever isso por enquanto.
De todo modo, se
esperarmos que todas as PCHs sejam construídas, será tarde demais para voltar
atrás. Então, o princípio de precaução, que é uma postura ética frente ao
impacto sobre o meio ambiente, deve ser levado em conta. Se nada for feito,
essas pequenas centrais hidrelétricas vão gerar muitos impactos. Quando iniciei
minha pesquisa sobre as PCHs, em 2002, existiam nove PCHs; hoje, são mais de
40. Ou seja, trata-se de uma operação lucrativa, porque o Estado facilita o
financiamento desse tipo de empreendimento e garante a compra de energia.
E esse
tipo de PCH gera algum benefício para a população local?
Muito pouco, só
durante a construção, porque boa parte da mão de obra já vem junto com a
construtora responsável pela obra. Depois que a PCH está pronta, são
contratadas três pessoas que serão responsáveis por operar a central
hidrelétrica. Portanto, não tem benefício econômico local, porque a ideia é
ligar essas PCHs com o Sistema Interligado Nacional.
A maior parte
das PCHs está em Mato Grosso, mas não é
essa a região que tem maior demanda de energia elétrica, ao contrário, são as
regiões sul e sudeste que precisam de mais energia. Além do mais, essas PCHs
vão gerar pouca energia, portanto nos períodos de seca não vão auxiliar o
Brasil, porque elas são a fio d’água, ou seja, não têm reservatório para
armazenar água por longos períodos. Então nos perguntamos se vale a pena o país
comprometer a integridade ecológica do Pantanal para ter esse retorno
energético tão baixo. Não seria melhor o Brasil investir em energia solar? A
geração de energia a partir do bagaço de cana-de-açúcar já produz mais energia
do que a que será gerada por essas PCHs.
Alguns
ambientalistas têm dito que há mais políticas públicas para outros
ecossistemas, como a Amazônia, mas faltam políticas públicas para biomas como o
Pantanal. Concorda com essa crítica?
Concordo, mas
existem razões para isso, por exemplo, o espaço midiático da Amazônia é muito
maior, assim como o espaço político que a Amazônia ocupa é muito maior em
relação ao Pantanal.
Se olharmos o tamanho da Amazônia no Brasil e na América do Sul, e o
tamanho do Pantanal em território, veremos que há muita diferença: o Pantanal
representa 4% do país, enquanto a Amazônia ocupa praticamente 30% do
território.
Se perdermos o
Pantanal, os impactos serão muito mais locais. Obviamente seria uma tragédia
para quem vive lá, mas se perdermos a Amazônia, será uma tragédia para toda
a América do Sul. Embora exista muito mais espaço político para a
Amazônia, nada impede que se dê a devida atenção para o Pantanal. O Estado
brasileiro assumiu um compromisso com o Pantanal há 30 anos, ao considerá-lo
patrimônio nacional, mas até hoje não existe uma lei para a região, e o Estado
quase perdeu o título de reserva da Biosfera porque não fazia nada pelo bioma.
Então, nesse sentido, há um déficit de atenção.
As
mudanças climáticas já estão impactando o Pantanal?
O Pantanal,
nessa questão que é ligada às mudanças climáticas, tem uma função interessante:
como é uma planície alagada, no Pantanal evapora bastante água, e para
evaporar, a água precisa de calor, assim, de certa forma, o Pantanal funciona
como um sistema de refrigeração. Mas aí você vai perguntar como o Pantanal
funciona como um sistema de refrigeração, se lá faz tanto calor. O ponto é que sem
água, o calor seria ainda mais intenso e a seca seria ainda mais dura.
Justamente por isso, é fundamental preservar esse regime hidrológico no Pantanal com inundações extensas. O aquecimento
global, nos próximos anos, vai aumentar muito as ondas de calor e a tendência é
que o mesmo ocorra no Pantanal. Então, dado que o Pantanal é suscetível a
mudanças climáticas, temos que preservá-lo, e essa preservação pode ser feita
com o envolvimento das populações locais, que serão as mais atingidas.
Já é
possível perceber essas alterações de temperatura no Pantanal por conta das
mudanças climáticas?
O que percebemos
mais é o aumento da estação de seca e o deslocamento do período de início da
temporada de chuvas, que têm começado mais tarde. Essas mudanças se referem às
alterações relacionadas à mudança climática. Além disso, os registros de 100
anos atrás mostram que em cidades como Campo Grande e Cuiabá houve um aumento
de um grau na temperatura. Se os nossos amigos do INPE estão certos, a temperatura continuará aumentando [risos].
Assista na
íntegra a conferência proferida pelo professor Pierre Girard:
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