quarta-feira, 10 de outubro de 2012

CULTURA:
VLADIMIR HERZOG (1937-1975)
Memória de um pesadelo
 Apresentação de As duas guerras de Vlado Herzog, de Audálio Dantas, 406 pp., Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2012; lançamento, em São Paulo, na terça-feira (16/10), a partir das 19h, no Sindicato dos Jornalistas (Rua Rego Freitas, 530 - sobreloja); título e intertítulos do OI
O projeto deste livro tem mais de trinta anos. Quando decidi realizá-lo, em 2005, avaliei o tamanho das dificuldades que teria pela frente. A primeira, maior de todas, era juntar as lembranças, os cacos de memória que ficaram espalhados pelo caminho até então percorrido. Trinta anos haviam se passado desde a escalada de terror que culminou com o assassinato de Vladimir Herzog, no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna) do II Exército, em São Paulo, no dia 25 de outubro de 1975.
Escrever este livro significava reviver um pesadelo.
Nos pesadelos, os momentos de maior angústia persistem na memória. Mas faltava juntar as lembranças das angústias reais. Em que momento, exatamente, tudo aquilo tinha começado? Como reconstituir cenas reais que muitas vezes se misturavam à ficção?
Trinta anos depois, era grande a dificuldade para retomar o fio da meada. No entanto, era preciso contar a história daqueles dias de outubro de 1975.
O projeto do livro nasceu no exato momento em que, descendo as escadarias da catedral da Sé, em São Paulo, vi a multidão – 8 mil pessoas – que participara, em protesto silencioso, do culto ecumênico em memória de Vladimir Herzog escoar-se pelas esquinas da praça que, aos poucos, se esvaziou.
Aquele vazio, no fim da tarde de 31 de outubro de 1975, estava carregado de simbolismos.
A paz ocupara o espaço que poderia, naquele exato momento, estar tinto do sangue dos que haviam comparecido ao ato cívico-religioso na catedral.
Ao mesmo tempo em que os participantes do culto ecumênico deixavam a praça, em pequenos grupos, retiravam-se centenas de policiais que para ali tinham sido mandados, com ordens de reprimir qualquer manifestação fora dos limites da catedral.
Esvaziavam-se a praça e, ao mesmo tempo, o pretexto para uma ação repressiva que poderia terminar num massacre.
Um grito que fosse, dentro ou fora da catedral, poderia desencadear a fúria reprimida dos que haviam assassinado Vladimir Herzog e ali esperavam justificativa para a continuidade de uma guerra contra a “subversão”, articulada na sombra dos porões controlados pelos órgãos de segurança da ditadura militar, transformados em campo de operação de um poder paralelo. Audálio Dantas  jornalista
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