CÓDIGO ABERTO
Nós, leitores, e a Petrobras
Por Carlos Castilho em 06/02/2015
O público brasileiro está sendo submetido a um verdadeiro
massacre informativo envolvendo a corrupção na Petrobras. A intensidade do
noticiário já deixou de ser uma opção questão meramente jornalística para se
transformar num caso típico de campanha movida pelos
principais órgãos de imprensa do país.
Os fatos passaram a ser menos importantes do que as versões e o
que era inicialmente a cobertura de um escândalo de corrupção desdobrou-se
numa trama de problemas que no seu conjunto procura transmitir aos
consumidores de notícias a percepção de que o país caminha para o caos.
O caso das propinas na Petrobras acabou vinculado pela imprensa
à crise energética quando o uso de combustíveis para amenizar os efeitos da
redução da capacidade de geração hidrelétrica do país provocou uma disparada
nos preços ao consumidor. O
linkentre Petrobras e a crise hídrica permitiu criar a sensação de
instabilidade e insegurança econômica entre as pessoas que já não sabem mais
quando e como começará o racionamento de energia e se a inflação vai disparar
ou não.
A análise da estratégia noticiosa adotada pela imprensa aponta
claramente na direção de um acúmulo, intencional ou não, de problemas.
Os casos Petrobras e crise hídrica serviram de pretexto para que instituições
internacionais de credibilidade duvidosa, como a agência Moody’s, rebaixassem o Brasil nos
mercados financeiros internacionais, o que provocou um efeito cascata da
desvalorização do real e o fantasma da fuga de investidores externos.
Esse conjunto entrelaçado de notícias sem a devida
contextualização tende a aumentar a orfandade do público, e há duas
alternativas possíveis: uma é o cansaço e exaustão do público em
relação a repetição exaustiva no noticiário de depoimentos, documentos,
acusações, explicações canhestras envolvendo tanto o caso da Petrobras como o
da crise hídrica. O desdobramento seria a perda de interesse.
A outra alternativa é o fim da paciência dos leitores, que
passariam a exigir medidas drásticas – o que criaria o ambiente adequado para
mudanças institucionais tanto na estatal petrolífera como no próprio governo. A
imprensa, obviamente, nega esta intenção mas sua estratégia na produção e
veiculação de notícias envolvendo a crescente associação entre a corrupção na
Petrobras e a crise hídrica torna quase inevitável uma radicalização
política que pode vir tanto pelas ruas como por maquinações
legislativas ou judiciais.
O que nós, leitores, ouvintes, telespectadores ou internautas
estamos perdendo é a noção de onde estão os fatos reais. O caso da
Operação Lava Jato tende a transmitir para a população a ideia de que a
Petrobras está quebrada por conta das estimativas bilionárias da corrupção
interna, mas o respeitado comentarias da Folha
de S.Paulo Janio de Freitas
aponta, com dados, justamente o contrário (ver “Reino
do ‘nonsense’”). Janio tem um histórico de integridade profissional
intocável e não arriscaria seu prestígio numa informação sem fundamento.
O mesmo acontece com a crise de falta d’água, onde a avalancha
de dados a favor e contra o racionamento se avolumam com um claro predomínio
das percepções pessimistas. A gente só descobre que há um outro lado na
questão hídrica quando vai para as redes sociais, blogs e páginas web
alternativas. Nenhum lado chega a ser 100% convincente porque a crise hídrica é
tão complexa quanto as investigações do escândalo de Petrobras.
A confusão informativa cresce na proporção direta da
intensificação do bombardeio noticioso que funciona como uma espécie de preparação
do estado de espírito do público em relação a medidas futuras mais
radicais. Referências à privatização da Petrobras e ao impeachment da
presidente Dilma Rousseff já circulam nas redações elobbies político-empresariais.
Não há dúvida de que sempre existiu corrupção na Petrobras
porque osuperfaturamento e as propinas são instrumentos institucionais na
política brasileira há décadas e sem eles a maioria esmagadora dos políticos
com mandato não teria sido eleita. Também não há dúvida de que a falta de
chuvas agravou o problema energético do país. São questões recorrentes que
foram transformadas pelo noticiário da imprensa em crises terminais da politica
energética vigente no país.
A solução para ambas teria que surgir num ambiente tranquilo de
reflexão, debate e experimentação, envolvendo uma participação crescente da
sociedade brasileira que, no fundo, é a principal e maior interessada. Mas o
que a imprensa e os políticos estão fazendo é criar um clima de agitação,
instabilidade, insegurança e imprevisibilidade para dissimular a luta pelo
poder. Nós, leitores, somos as principais vítimas desse processo,
porque não sabemos o que está acontecendo. Os porta-vozes do governo estão
desacreditados por sua insistência numa visão rósea da realidade nacional,
enquanto a oposição e os interesses corporativos adotam o discurso pessimista.
A conjuntura atual está claramente vinculada ao início da batalha
eleitoral para a sucessão de Dilma. Depois que o escândalo do mensalão cortou
um dos mananciais de financiamento ilegal de campanhas eleitorais do PT e
aliados, a Petrobras passou a ser a grande torneira para irrigar a o projeto da
volta de Lula ao poder. A Operação Lava Jato está fechando também esta fonte de
recursos para o caixa 2 eleitoral, com o claro objetivo de asfixiar
financeiramente o Partido dos Trabalhadores. É uma estratégia editorial
vinculada a uma estratégia eleitoral, só que a imprensa procura induzir o
público a achar que o objetivo é exclusivamente moralizador. http://observatoriodaimprensa.com.br/
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