Mito Do Uso Seguro De Agrotóxicos, Artigo De Roberto Naime
[EcoDebate] Any Cometti
noticia que a Campanha Contra os Agrotóxicos divulgou uma pesquisa que comprova
a inviabilidade do uso seguro de agrotóxicos. A dissertação de mestrado do
pesquisador Pedro Henrique de Abreu conclui claramente que ?não existe
viabilidade de cumprimento das inúmeras e complexas medidas de ‘uso seguro’ de
agrotóxicos no contexto socioeconômico destes trabalhadores rurais?.
O trabalho foi aprovado no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
A pesquisa foi feita no município de Lavras (MG), onde foram visitadas
81 unidades de produção familiar em 19 comunidades. Procurou-se verificar a
viabilidade do cumprimento dos manuais de segurança da indústria química e do
Estado na agricultura familiar.
Durante a pesquisa,
foi possível constatar que a aquisição dos agrotóxicos é feita sem perícia
técnica e a receita é fornecida por funcionários das lojas, embora exista o
receituário agronômico, sem que os agricultores recebam instruções na hora da
compra.
O transporte dos produtos tóxicos é feito nos veículos convencionais,
que não atendem aos requerimentos de segurança. Os agricultores também não
recebem os documentos de segurança necessários para a operação.
Essas constatações derrubam o mito de que existe um possível uso seguro
de agrotóxicos. O pesquisador constatou ainda que o armazenamento dos produtos
nas propriedades rurais é inadequado e que o tamanho das terras impede que seja
respeitada a distância segura entre o local das aplicações e as casas e fontes
de água.
A lavagem dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), usados na
aplicação dos agrotóxicos, também é inadequada, sendo comparada a uma atividade
doméstica comum e realizada sem que qualquer cuidado.
Diversas pesquisas anteriores já alertaram para o perigo do contato e do
uso de agrotóxicos, tanto para aqueles que o manuseiam quanto para quem consome
o alimento contaminado.
A Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), instituição referência em pesquisas
no setor da saúde no Brasil reitera o perigo ao qual estão expostos
trabalhadores e moradores de áreas rurais, trabalhadores das campanhas de saúde
pública e de empresas de desinsetização e populações indígenas, quilombolas e
ribeirinhas, extremamente vulneráveis.
Os riscos, perigos e danos provocados à saúde pelas exposições agudas e
crônicas dessas populações aos agrotóxicos são incontestáveis, segundo a
instituição, com base na literatura científica internacional.
No dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), se
apontou que dos 50 produtos mais utilizados nas lavouras brasileiras, 22 são
proibidos na União Europeia, o que faz com que o país seja o maior consumidor
de agrotóxicos já banidos em outros locais do mundo, de acordo com a entidade.
Estudos publicados por pesquisadores do País comprovam que a exposição
prolongada aos agrotóxicos causa ataques ao sistema nervoso, ao sistema
imunológico, má formações, atinge a fertilidade e possui efeitos cancerígenos.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão
responsável por liberar tais produtos no país, o mercado brasileiro de
agrotóxicos cresceu 190% nos últimos 10 anos, um ritmo muito mais acentuado do
que o do mercado mundial, que foi de 93% no mesmo período.
Desde 2008, o Brasil é campeão global no uso de agrotóxicos e atualmente
concentra cerca de 20% do uso mundial. O Espírito Santo, que já foi campeão
brasileiro, é o terceiro da federação que mais faz uso de agrotóxicos.
Não faz sentido exercer qualquer condenação prévia e apriorística da
biotecnologia ou de qualquer substância química. Qualquer inovação tecnológica
teve como estimulação, os benefícios que podem ser gerados.
Logo todos os procedimentos merecem isenção e avaliações em cada caso, e
não condenações gerais de qualquer natureza, que respondam a anseios dogmáticos
ou políticos.
Conforme já se referiu, mesmo que não se apregoe qualquer restrição às
evoluções científicas que inegavelmente são representadas por incrementos na
transgenia ou por aprimoramentos de moléculas na indústria química, não custa
nada admoestar a todas as partes interessadas que é preciso ter um pouco de
humildade.
Mecanismos de proteção que podem até interferir na seleção natural, são
temerários, sem compreender todas as relações implícitas ou explícitas, e não
lineares ou cartesianas da homeostase dos ecossistemas.
É um pouco pretensioso na atual fase de conhecimentos da civilização
humana, implementar estes incrementos, sem considerar os princípios de precaução
e sem mobilizar tentativas mais sistêmicas e holísticas de se apropriar da
realidade.
Referências:
Dr. Roberto Naime,
Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do
corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade
Feevale.
"Mito do uso
seguro de agrotóxicos, artigo de Roberto Naime," in Portal
EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/09/2016,https://www.ecodebate.com.br/2016/09/20/mito-do-uso-seguro-de-agrotoxicos-artigo-de-roberto-naime/.
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