Saúde Multifatorial, artigo de
Montserrat Martins
Publicado em agosto 19, 2013 por
[EcoDebate] Antigamente o conceito de
doença era simplista, na base da relação causa-efeito: bacilo de Koch causa
tuberculose, pneumococo causa pneumonia, alcoolismo leva à cirrose, etc. Com a
evolução da Medicina e das pesquisas em etiologia (da causa das doenças), foram
ficando mais claras as influências dos vários fatores que afetam à saúde. Do
papel fundamental do sistema imunológico, para começar, que para darmos um
exemplo dramático chega ao ponto de algumas pessoas terem o vírus da Aids mas
não desenvolverem a doença. Do sistema nervoso, evidenciado no fato do stress
ser um complicador dos problemas cardiovasculares. Do emocional, como no caso
da depressão que é um fator de inibição do sistema imunológico.
Vendo a saúde num sentido mais amplo, de saúde pública, os
fatores se multiplicam: as questões sanitárias influindo na epidemiologia das
doenças infecciosas-parasitárias como a dengue, as condições econômicas
influindo nas condições de vida que geram outros fatores etiológicos, o
organização do sistema de saúde para oferecer (ou não) medicina preventiva.
Seria fácil culpar o governo pelo que deixa de oferecer – e essa cobrança tem
de ser feita, para que a saúde seja prioridade – mas os problemas de atendimento
à saúde pública estão presentes mesmo em países mais desenvolvidos, não são um
privilégio brasileiro. Um dos maiores esforços de Obama é justamente oferecer
saúde pública aos americanos, enfrentando uma cultura privativista, que até
então não concebia nada semelhante ao SUS.
O diagnóstico da saúde brasileira, assim como o diagnóstico das
doenças, tem de ser compreendido como multifatorial, incluindo as questões
sanitárias e socioeconômicas. Nesse contexto, a distribuição territorial dos
médicos é um fator que tem de ser enfrentado, obviamente, mas ele só vai
funcionar se for acompanhado de várias outras medidas. Nossa “cultura” (ou
falta de cultura) da saúde, até hoje, tem sido das prefeituras do interior
investirem mais em ambulâncias para levar os pacientes para os grandes centros
e até ajudar no suporte aos familiares para acompanhar estes tratamentos, mais
que em proporcionar estrutura de atendimento nas cidades menores. Os
administradores municipais, por sua vez – já que o SUS é municipalizado – se
queixam que na área de saúde estão gastando proporcionalmente mais do que os
percentuais indicados, enquanto o governo federal não se compromete com 10%
para o setor.
Há questões a serem enfrentadas em absolutamente todas as áreas,
das preventivas à estrutura de atendimento e também de medicamentos. Para dar
só um exemplo, sumiu das farmácias o Isordil (antianginoso) sublingual, assim
como ocorre com outros medicamentos quando os laboratórios querem aumentar os
preços. Está prevista, agora, a volta do LAFERGS, laboratório farmacêutico
público, necessário nessa equação multifatorial.
Montserrat Martins, Colunista do Portal
Ecodebate, é Psiquiatra. EcoDebate, 19/08/2013
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