Anatel não comprova má-fé da TIM na queda das
ligações no plano Infinity
Luiz Queiroz Convergência Digital
Luiz Queiroz Convergência Digital
Um novo parecer elaborado pela fiscalização da
Anatel sobre o episódio da queda de ligações no plano Infinity da TIM, obtido
com exclusividade pelo portal Convergência
Digital, deverá, em breve, bater na mesa de um conselheiro da Anatel. E caberá
a ele, arrumar uma saída política, capaz de satisfazer tanto a TIM, que teve a
sua imagem corporativa arranhada perante a opinião publica, quanto aos técnicos
da agência, responsáveis pela confusão, de forma a evitar uma batalha jurídica
futura com a tele ou uma guerra interna na agência reguladora, justificada pelo
já famoso corporativismo funcional.
O problema diz respeito a uma nova "Nota
Técnica" - concluída no dia 3 de janeiro deste ano - a pedido da
Superintendência de Serviços Privados (SPV). Nela, há uma análise da defesa
apresentada pela TIM, após o episódio em que a Anatel anunciou que estava
suspendendo, em julho, a venda de chips da operadora. A punição também atingiu
as operadoras Claro e Oi.
Mas a suspensão da venda dos chips da TIM,
anunciada pelo Conselho Diretor, foi mais rumorosa. Isso porque os conselheiros
da Anatel foram surpreendidos com a notícia de que o Ministério Público Federal
do Paraná estaria investigando - com base em parecer da fiscalização da própria
agência - a possibilidade de a TIM estar derrubando propositalmente as ligações
feitas pelos usuários do Plano Infinity. A estratégia seria para gerar mais
receita com esses usuários, uma vez que eles seriam obrigados a fazer novas
ligações para 'completar' as suas chamadas.
O Relatório de Fiscalização nº14/2012, enviado
diretamente ao Ministério Público Federal do Paraná - sem que tivesse havido
previamente a conclusão das investigações - sustentava que a TIM teria gerado
um acréscimo de 300% nas quedas da ligações do plano Infinity, o ilimitado, em
relação aos pacotes tarifados por minuto.
Os dados da Anatel, entretanto, deixaram de ser
meramente informação técnica para se tornarem peça de acusação e sustentar, de
forma direta, a Ação Civil impetrada pelo Ministério Público do Paraná para voltar
a suspender as vendas de chips da TIM no Estado. Isso porque a fiscalização
extrapolou a sua competência e tomou para si a responsabilidade de,
formalmente, acusar a operadora de estar agindo de má-fé contra os usuários do
Plano Infinity.
Com base num procedimento administrativo por
descumprimento de obrigações (PADO) de 2010, gerado por um auto de infração
pela Superintendência de Pernambuco - acompanhado pelo Ministério Público
Federal de Pernambuco - os fiscais da Anatel elaboraram o relatório de maio de
2012 e, ainda que preliminar, fizeram chegar o documento para o Ministério
Público do Paraná, contendo a seguinte acusação:
"Concluiu-se que a prestadora está
desconectando usuários Infinity de forma proposital para que os mesmos realizem
uma nova chamada para completar a conversa...", listando em seguida quais dispositivos da
legislação de telecomunicações vigente a operadora estaria
contrariando.
No relatório de maio de 2012, a fiscalização
da Anatel inclusive informou aos procuradores do Paraná, que no dia
08 de março do mesmo ano foram 1,091 milhão de usuários paranaenses do Infinity
afetados pelas quedas.
Ao todo o relatório apontava que foram registradas
2 milhões de chamadas desligadas, gerando um gasto extra aos consumidores de
cerca de R$ 550 mil no total. No Brasil, sustenta ainda o levantamento, foram
8,179 milhões de usuários afetados pelos desligamentos, representando um
prejuízo de R$ 4,327 milhões no total somente com a TIM.
O levantamento dos fiscais da Anatel diz ainda que
a TIM teria dado informações incorretas tanto à agência quanto ao Ministério
Público, ao relatar um número menor de ocorrências. No Brasil inteiro, o índice
de desligamentos na rede da empresa seria mais de 17 vezes superior ao máximo
permitido pela resolução 317/07 do Plano Geral de Metas de Qualidade para o
Serviço Móvel Pessoal, que é de 2%.
Com a repercussão das informações vazadas pelo MPF
do Paraná, o Conselho Diretor da Anatel, ao anunciar a suspensão da venda de
chips da TIM, além das opereadoras Oi e Claro - com efeito entre os dias 23 de
julho e 2 de agosto - apenas se limitou a informar que o relatório de
fiscalização, onde havia a acusação de a operadora de agir de má-fé, era
preliminar.
E que o PADO instaurado contra a empresa ainda se
encontrava em fase de instrução, quando caberia a defesa da prestadora do
serviço e novas diligências para investigar o caso. Em comunicado divulgado na
época, a TIM negou eventuais quedas de chamadas em clientes com o plano
Infinity motivadas por ação deliberada da empresa.
Na nova nota técnica emitida a pedido da SPV -
Superintendência de Serviços Privados da Anatel sobre as quedas de ligações da
TIM - as informações ainda sustentem a tese de que 90% das ligações
investigadas num único dia estejam 2% acima do permitido pela Anatel.
Mas,agora, esclarecem que os cálculos são
divergentes quando confrontados com os dados apresentados pela operadora e pela
fabricante Ericsson, que acabou envolvida no processo - uma vez que os
equipamentos utilizados eram de sua produção.
Quando se trata de assumir a responsabilidade da
informação de que a operadora teria agido de má-fé, o escritório da Anatel, em
São Paulo, desconversa e afirma na nota técnica que: "ficou evidenciado que em nenhum item da conclusão do
relatório 14/2012 a prestadora afirma que a prestadora trata de forma desigual
os usuários Infinity e não Infinity".
Mesmo que no relatório 14/2012 tenha sido
claramente afirmado que a TIM desconetava "usuários
de forma proposital, para que os mesmos realizem uma nova chamada para
completar a conversa".
Na nova Nota Técnica, os fiscais alegam que a
informção correta a ser atribuída a eles seria que:"a rede da prestadora estaria dando tratamento desigual aos clientes
Infinity e não Infinity".
Saída política
Caberá ao conselheiro - a ser escolhido em sorteio
- ter o jogo de cintura necessário para produzir um parecer final, capaz de ser
convincente politicamente para ambos os lados: TIM e fiscais da Anatel. Para a
TIM, o conselheiro poderá reafirmar que a decisão tomada em julho do ano
passado de suspensão das vendas de chips foi a mais correta, uma vez que, mesmo
com toda a controvérsia técnica, a operadora estava com problemas na sua rede
mas, ao mesmo tempo, terá que ser claro o suficiente para demonstrar que a
Anatel está se retratando com a operadora por ter prejudicado sua imagem diante
do público.
A agência não tem como escapar da culpa pelo fato
de ter, erroneamente, distribuído um relatório de fiscalização preliminar, no
qual estava mais que clara a acusação formal de que a TIM derrubava as ligações
no seu plano ilimitado, com o objetivo de gerar mais receita com o
completamento das conversas interrompidas.
Mas, ao fazer isso, esse conselheiro terá de
arrumar um jeito de dizer que tudo não passou de um malentendido - que
certamente será atribuído à imprensa. De forma que assuma a culpa pelo fato dos
ficais terem ido além da sua competência técnica, sem provas para corroborar
uma acusação formal deste porte à TIM mas, que desta vez não houve má-fé da
parte da agência reguladora.
Ficando no campo do "mal entendido", a
Anatel evitará abrir uma guerra contra o corporativismo da casa, que não
aceitará, passivamente, a instauração de uma sindicância interna, procedimento
previsto para para apurar os responsáveis pelo dano à imagem da empresa. Resta
saber quem será esse superconselheiro e como reagirá o novo comando da TIM, que
já encara esse primeiro pepino político junto ao governo.
:: Clique
Aqui e leia a íntegra do relatório da fiscalização de 2012 (PDF
- 1,1 MB):: Clique Aqui e leia o novo parecer da fiscalização da Anatel (PDF - 12 MB)
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