sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


MÍDIA & RACISMO
Sobre mal-entendidos, preconceitos e hipocrisia
Por Sylvia Debossan Moretzsohn
m Campinas (SP), a Polícia Militar divulga uma ordem de serviço orientando patrulhamento em determinado bairro com atenção especial a suspeitos “de cor parda e negra” (ver aqui). No Rio, um menino negro é enxotado de uma concessionária de carros de luxo pelo funcionário que viu nele apenas mais um moleque importuno e não supôs que pudesse ser filho adotivo do casal branco a quem atendia.
Diante da repercussão negativa, a polícia paulista tentou minimizar o episódio: explicou que a nota dizia respeito a um grupo específico de jovens com aquelas características, que vinham cometendo crimes na região – daí a especificação não apenas do bairro, mas do dia da semana e do horário –, mas reconheceu que “o texto foi redigido de forma equivocada”. No Rio, a concessionária demorou uma semana até se desculpar com os fregueses dizendo que tudo não passara de um mal-entendido, e aí sim a história ganhou destaque, primeiro nas redes sociais, e em seguida na imprensa.
O “mal-entendido” da PM disfarça precariamente o preconceito arraigado na corporação treinada para perseguir os marginalizados, e sintetizado na referência à “cor padrão” com a qual costumam ser identificados na comunicação entre policiais – muitos deles, por sinal, dessa mesma cor. Já o “mal-entendido” da concessionária provocou uma onda de protestos e até uma indignada manifestação da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro contra a discriminação racial. A ênfase nesse tema encobriu o principal: o preconceito social, presente nos mais variados aspectos da vida cotidiana e reiterado sistematicamente pela própria mídia hegemônica.

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