MÍDIA & RACISMO
Sobre mal-entendidos, preconceitos e hipocrisia
Por Sylvia Debossan Moretzsohn
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Campinas (SP), a Polícia Militar divulga uma ordem de serviço orientando
patrulhamento em determinado bairro com atenção especial a suspeitos “de cor
parda e negra” (ver aqui). No Rio, um menino
negro é enxotado de uma concessionária de carros de luxo pelo funcionário que
viu nele apenas mais um moleque importuno e não supôs que pudesse ser filho
adotivo do casal branco a quem atendia.
Diante da repercussão
negativa, a polícia paulista tentou minimizar o episódio: explicou que a nota
dizia respeito a um grupo específico de jovens com aquelas características, que
vinham cometendo crimes na região – daí a especificação não apenas do bairro,
mas do dia da semana e do horário –, mas reconheceu que “o texto foi redigido
de forma equivocada”. No Rio, a concessionária demorou uma semana até se
desculpar com os fregueses dizendo que tudo não passara de um mal-entendido, e
aí sim a história ganhou destaque, primeiro nas redes sociais, e em seguida na
imprensa.
O
“mal-entendido” da PM disfarça precariamente o preconceito arraigado na
corporação treinada para perseguir os marginalizados, e sintetizado na
referência à “cor padrão” com a qual costumam ser identificados na comunicação
entre policiais – muitos deles, por sinal, dessa mesma cor. Já o
“mal-entendido” da concessionária provocou uma onda de protestos e até uma
indignada manifestação da
Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro contra a
discriminação racial. A ênfase nesse tema encobriu o principal: o preconceito
social, presente nos mais variados aspectos da vida cotidiana e reiterado
sistematicamente pela própria mídia hegemônica.
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