Parque
Nacional Da Chapada Dos Veadeiros Perdeu 90% Da Sua Extensão Em Cinco Décadas
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Notícia
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Foto: © Nelson Yoneda/O ECO, in WWF
Criado com uma área de 625 mil hectares em 1961, o Parque Nacional da Chapada
dos Veadeiros, localizado em Goiás, mantém apenas 10% da sua área original, e
hoje está reduzida a 65 mil hectares, informa a bióloga Mercedes Bustamante à IHU
On-Line, na entrevista a seguir, concedida por e-mail. Diante desse
cenário, atualmente há um impasse em torno da ampliação do Parque, entre aqueles que defendem
sua ampliação imediata e o governo do Estado de Goiás, que sugere que a
ampliação seja feita em etapas. “O governo de Goiás (que precisa dar seu aval à
proposta) apresentou uma contraproposta para que isso seja feito em etapas,
deixando para um segundo momento a incorporação de áreas não regularizadas.
Adicionalmente, a contraproposta do governo de Goiás resultaria em um desenho
fragmentado para a unidade de conservação”, adverte.
Segundo a bióloga, “interesses fundiários” estão
“associados à expansão do uso para a agropecuária frente às demandas pela
ampliação que permitiria garantir a integridade ecológica e funcional de
ecossistemas muito particulares”. Ela lembra ainda que “a estratégia de
ocupação do passado recente” de áreas do Cerrado “não se adequa a um
futuro com sustentabilidade, segurança hídrica e estabilidade climática”. Mercedes Bustamante é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do
Rio de Janeiro – UERJ, mestra em Ciências Agrárias pela Universidade Federal de
Viçosa e doutora em Geobotânica pela Universitat Trier, na Alemanha. Atualmente
é professora da Universidade de Brasília – UnB e membro do corpo editorial do
periódico Oecologia.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quais são os impasses
que estão dificultando a ampliação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
– PNCV? Que percentual da área se pretende ampliar?
Mercedes Bustamante – Os impasses referem-se ao prazo para ampliação da área do Parque. O Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio apresentaram a proposta de que isso seja feito em uma etapa única e o
quanto antes, considerando que a proposta vem sendo discutida há cinco anos. O governo de
Goiás (que precisa dar seu aval à proposta)
apresentou uma contraproposta para que isso seja feito em etapas, deixando para
um segundo momento a incorporação de áreas não regularizadas. Adicionalmente, a
contraproposta do governo de Goiás resultaria em um desenho fragmentado para a unidade de
conservação. É preciso ressaltar que a demarcação original do parque era (em 1961)
de 625 mil hectares. De lá para cá, o Parque Nacional da Chapada dos
Veadeiros permaneceu somente com 65 mil
hectares, ou seja, cerca de 10% da área original. A proposta do Ministério
do Meio Ambiente – MMA ampliaria a área para 222 mil
hectares.
IHU On-Line – Quais são os interesses
que estão em jogo nessa negociação entre os que defendem a ampliação do parque
e os que são contrários a ela?
Mercedes Bustamante – Há interesses fundiários associados à expansão do uso para a agropecuária frente às demandas pela ampliação que permitiria garantir a integridade
ecológica e funcional de ecossistemas muito particulares. A aparente dicotomia
entre expansão agropecuária e conservação não procede, pois a agricultura é a
atividade econômica que mais se beneficia da conservação dos recursos naturais.
IHU On-Line – Qual é a atual situação
ambiental da Chapada dos Veadeiros?
Mercedes Bustamante – O parque é afetado pela conversão acelerada dos habitats em seu entorno
(como outros parques ao longo do bioma Cerrado). Adicionalmente, o PNCV tem grande relevância para as populações locais e tradicionais em uma
interação entre a diversidade biológica e de paisagens e a diversidade
sociocultural. É importante recordar que, em face das mudanças climáticas, as áreas de
altitude estão entre as mais vulneráveis e devem ter sua proteção priorizada.
IHU On-Line – Por que é importante
ampliar essa área do parque? Que espécies seriam preservadas com a ampliação?
A ampliação em
forma de área contínua reduziria a vulnerabilidade do Parque aos impactos de
mudanças ambientais
Mercedes Bustamante – A ampliação em forma de área contínua reduziria a vulnerabilidade do
parque aos impactos de mudanças ambientais, garantiria o fluxo gênico e
variabilidade das populações de plantas e animais. O parque possui espécies em
risco de extinção ou situação de vulnerabilidade, bem como espécies endêmicas
(cuja ocorrência está restrita a essa região).
IHU On-Line – Com a ampliação do
parque, fala-se na preservação de recursos hídricos importantes. Quais recursos
serão protegidos?
Mercedes Bustamante – O parque tem centenas de nascentes que contribuem para importantes
bacias hidrográficas brasileiras. Episódios recentes de secas
extremas com comprometimento do abastecimento
de água para a população nos mostram que a proteção de nascentes e da
capacidade de captação de água dos ecossistemas naturais é essencial para o
bem-estar humano.
IHU On-Line – Quais têm sido os
impactos do agronegócio sobre o Cerrado? É possível estimar qual é o percentual
de cobertura vegetal que foi perdido?
Mercedes Bustamante – O Cerrado já perdeu 50% de sua cobertura nativa. Os remanescentes estão
fragmentados e sob pressão de conversão nas novas frentes do desmatamento. As áreas de
proteção integral cobrem um percentual muito baixo do
bioma e não representam sua variabilidade espacial. É preciso reconhecer que a
estratégia de ocupação do passado recente não se adequa a um futuro com
sustentabilidade, segurança hídrica e estabilidade climática. www.ecodebate.com.br/
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