Intenção de voto em Lula: hora de esquerda e PT
saírem da defensiva
Da semana passada para cá vem surgindo na imprensa, nas redes
sociais e no parlamento, da parte de apoiadores do governo Temer, uma avaliação
de que o pior da recessão já passou e alguns indicadores econômicos, embora
tenuemente, começam a reagir.
Como a avaliação de retomada da economia é insustentável, e no
medo de queimar a língua, os analistas a soldo de Temer logo tratam de arrumar
um bode expiatório para a hora na qual a realidade desmoralizar o diagnóstico:
nós, da oposição, por fazermos oposição.
Não é sério. Esses analistas esqueceram de dizer que o tênue
movimento de arrefecimento da inflação e dos juros básicos, na conjuntura de
hoje, em vez de sinalizar a retomada, é muito mais indicador da profunda
recessão que a política econômica do governo fez o Brasil mergulhar.
Conforme corretamente assinala o jornalista Luis Nassif, é preciso
dizer com todas as letras que o governo Temer não tem uma estratégia de superar
a crise econômica. O que realmente existe é um cruel desmonte do Estado de
bem-estar social, que começou com a aprovação da PEC-55 do teto de gastos e
continua com as reformas previdenciária e trabalhista. Inexiste um plano de
medidas de emergência, a exemplo do que fez o presidente Lula na crise de 2008,
visando à retomada da economia.
Demanda, emprego, consumo, investimento público são palavras
proibidas no receituário da política econômica de Temer. Menos ainda medidas de
longo prazo a cada dia mais necessárias, como mexer no sistema da dívida e
fazer uma reforma tributária de caráter progressivo.
A situação atual de estagnação econômica provoca efeitos
inevitáveis no campo da política. Assim, em todas as simulações das eleições
presidenciais de 2018, as candidaturas do campo governista naufragam, enquanto
a do presidente Lula ascende.
A relação de Lula com o povo brasileiro é profunda e vem de longe.
Mas não é simplesmente uma relação sentimental (a que se aplica o termo, neste
caso carinhoso, de afetiva saudade).
O que o desastre das políticas neoliberais de Temer vem reavivando
na cabeça de nosso povo é a memória de um tempo de desenvolvimento. Neste caso,
desenvolvimento funciona como uma espécie de palavra-síntese usada para
exprimir muitas coisas boas, mas significando especialmente uma época de
inclusão social e pleno emprego.
A edição da Folha de S.Paulo de hoje (15.fev) publica um estudo da
FGV (Fundação Getúlio Vargas) demonstrativo de que o período de junho de 2003 e
julho de 2008 foi a maior fase de expansão da economia brasileira das últimas 3
décadas. Em 5 anos, a indústria se expandiu, as vendas no comércio registraram
alta e a geração de emprego e renda cresceram.
Mesmo quando sobreveio a crise de 2008, as ações do governo Lula,
ao inverso das de Temer agora, resultaram no crescimento da economia (o PIB
saiu de -0,1% em 2009 para extraordinários 7,5% em 2010).
Por seu turno, o Valor Econômico de 2ª feira (13/02) publicou uma
pesquisa qualitativa sobre a “Era Lula’’. A pesquisa foi feita com eleitores
que “andam afastados do PT, mas declaram intenção de votar no petista”. O
relatório da pesquisa aponta para “reiterados sinais de um sentimento de
nostalgia” em relação ao período entre 2003 a 2010. Tais “lembranças” seriam
relacionadas principalmente a aspectos econômicos.
Cito falas de percepções de eleitores, publicados pelo Valor,
sobre a “Era Lula”. As lembranças são muito positivas.
Vejam a percepção sobre o emprego: “havia um equilíbrio (…) a taxa
de desemprego era muito baixa. Eu arrumava emprego fácil”; e sobre as políticas
de inclusão: “ele visa muito a igualdade social. Ele subiu a classe de muita
família pobre”; sobre a ascensão social: “o cara da classe E passou para a D, o
da D passou para a C, o da C passou para a B.”
Tentaram apagar os feitos do governo Lula na História. Fizeram uma
das mais sórdidas campanhas contra uma liderança política registrada na
história nacional.
Para completar os cenários de boas notícias, sucedendo uma
temporada de tantas notícias ruins, acabou de ser divulgada uma pesquisa da
CNT/MDA, na qual Lula é primeiro lugar em todos os cenários de primeiro e
segundo turno.
Os sinais convergentes do estudo da FGV, da pesquisa do Valor e a
pesquisa eleitoral da CNT/MDA auguram a possibilidade de nós, da esquerda e do
PT, saindo da defensiva em que nos metemos desde 2015. Por isso, defendo que é
hora de o PT lançar, até no máximo em abril, o companheiro Lula como
pré-candidato a presidente, possibilitando as condições de ele viajar Brasil
afora pregando a sua mensagem, mobilizando e agregando o povo.
São épocas diferentes. Porém, cabe, a título de ilustração, uma
analogia com o retorno de Vargas em 1950. Naquele tempo, o governo Dutra fora
um retumbante fracasso.
Resultado: uma das marchinhas mais cantadas do carnaval de 1950,
de autoria de Haroldo Lobo e na voz de Francisco Alves, foi a genial “O retrato
do velhinho”. O estribilho da marchinha – “o sorriso do velhinho faz a gente
trabalhar” – não estava ali de graça. Fazia, na forma de arte, o contraponto
entre as políticas econômicas de Dutra e Vargas.
Parece haver um fio de
necessidade histórica ligando as pontas: novamente, agora em pleno século XXI,
depois de outra fracassada experiência de governo impopular, aparece um outro
velhinho que também foi presidente dialogando com as aspirações nacionais e
populares, pregando um programa de verdadeira retomada do desenvolvimento,
emprego e inclusão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.