Política
Solução
Michel
Os 14
atos para “estancar a sangria” da Lava Jato
Por Redação — publicado 15/02/2017 10h56, última
modificação 15/02/2017 11h00 http://www.cartacapital.com.br/
Com Temer no poder,
governo, Congresso, PMDB, integrantes do Judiciário, grupos anti-PT e donos da
mídia se movem em direção que indica tentativa de "delimitar" a
operação
Foto
Com o fim dos recessos no
Legislativo e no Judiciário, fevereiro de 2017 se tornou um marco na pressão
contra a Operação Lava Jato. A investigação abala a República há
três anos, pois, assim como ocorreu com as operações Satiagraha e Castelo de
Areia, a Lava Jato se embrenhou nos esquemas de financiamento de campanhas
políticas e nas relações entre o empresariado e os donos de cargos eletivos.
Graças à maior especialização dos investigadores e à criação de estruturas para as
apurações, e também a uma intensa pressão da opinião pública, e publicada, a
Lava Jato avançou. Com suas mega operações e também inúmeros vazamentos, além
de ilegalidades como a divulgação dos áudios entre Lula
e Dilma Rousseff, teve
papel decisivo na derrubada do governo petista.
Na gênese da ação para
remover Dilma estava também uma estratégia para acabar com a operação.
Isso ficou claro no diálogo vazado e publicado em maio pela Folha
de S.Paulo entre Sergio Machado, ex-presidente da
Transpetro (subsidiária da Petrobras), e o atual líder do governo Michel Temer
no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
Jucá - Você tem que ver com
seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política,
advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que
resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
Machado - É um acordo, botar o
Michel, num grande acordo nacional.
Jucá - Com o Supremo, com
tudo.
Machado - Com tudo, aí parava
tudo.
Jucá - É. Delimitava onde
está, pronto.
A existência dessa
estratégia foi confirmada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Na
denúncia em que pediu a abertura de um inquérito criminal contra o
ex-presidente José Sarney (PMDB), os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan
Calheiros (PMDB-AL) e Sérgio Machado, Janot afirmou que a
formação do governo Temer visava proteger a organização criminosa investigada na Lava
Jato. Segundo o PGR, as nomeações de Jucá, Sarney Filho e Fabiano
Silveira para o ministério de Temer tinham o objetivo de criar "ampla base
de apoio" para conter a Lava Jato.
Neste contexto, as duas
primeiras semanas de fevereiro concentraram 14 atos que revelam uma
movimentação para "estancar a sangria" provocada pelas investigações.
Confira
a lista:
Eunício na presidência do Senado – 1º de
fevereiro
A base aliada do governo
Temer se juntou para colocar no comando do Senado um alvo da Lava Jato, Eunício
Oliveira (PMDB-CE). Apelidado de "Índio" por um delator da Odebrecht,
Eunício foi apontado como integrante do "núcleo dominante" do
PMDB no Senado. Ainda segundo o delator, Eunício teria atuado em favor da
Odebrecht no Senado em emendas benéficas à empresa. No cargo, Eunício terá
papel determinante na análise de legislações que podem tolher as investigações,
como a lei de abuso de autoridade ou a anistia ao caixa 2.
Maia na presidência da Câmara – 2 de
fevereiro
Um dia depois de Eunício
Oliveira ser eleito no Senado, a Câmara também confirmou sua intenção de ser
comandada por um alvo da Lava Jato. "Botafogo" na delação da Odebrecht,
Maia foi acusado de ter recebido dinheiro para defender os interesses da
construtora, assim como de favorecer a OAS, outra empreiteira. Da mesma forma
como Eunício, Maia tem peso relevante no futuro de projetos que podem afetar a
Lava Jato. No ano passado, por exemplo, ele foi apontado como um dos
articuladores do "golpe da madrugada", um acordão
em favor da anistia ao caixa 2.
Moreira Franco no ministério – 2 de
fevereiro
No início de fevereiro, o
então secretário-executivo do Programa de Parcerias em Investimentos (PPI) do
governo foi promovido a ministro da Secretaria Geral da Presidência, ministério
recriado por Temer para abrigar Moreira Franco. A nomeação, que se deu três
dias depois de o STF homologar as delações da Obebrecht,
foi vista como uma forma de proteger Moreira do juízo de Sergio Moro,
responsável por julgar a Lava Jato em primeira instância. Ao contrário do que
ocorreu quando Lula estava na mesma situação, o STF autorizou a nomeação de
Moreira.
Temer indica Moraes ao STF – 6 de fevereiro
No início do mês, Temer
decidiu indicar seu ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para o Supremo
Tribunal Federal. A nomeação chamou atenção porque Moraes, homem de confiança
de Temer, pode vir a ser responsável por julgá-lo caso o atual ocupante do
Planalto seja denunciado pela Procuradoria-Geral da República. Apenas em uma
delação da Odebrecht no âmbito da Lava Jato, Temer foi citado 43 vezes.
Gilmar Mendes critica Moro – 7 de
fevereiro
Crítico conhecido de Sergio Moro, o
ministro do STF Gilmar Mendes pouco falou sobre as decisões do magistrado
enquanto a Lava Jato tinha o PT e o governo Dilma Rousseff na mira. No retorno
do recesso de 2017, o amigo
de Temer voltou à carga e passou a criticar as prisões
decretadas por Moro, vistas pelos defensores da operação como importantes para
o avanço das investigações.
"Temos um encontro marcado com as alongadas prisões que se
determinam em Curitiba. Temos que nos posicionar sobre este tema que conflita
com a jurisprudência que desenvolvemos ao longo desses anos", disse
Mendes. Em despacho publicado três dias depois, Moro afirmou, sem citar Gilmar,
que não vai ceder "à pressão política".
Articulação pró-Cunha – 8 de fevereiro
Potencial delator, o deputado cassado
Eduardo Cunha (PMDB) está preso desde outubro, por uma decisão de Sergio Moro
que foi referenda pelo antigo relator da Lava Jato no STF, Teori Zavascki. Um
recurso da defesa de Cunha está no STF, mas foi retirado da Segunda Turma,
responsável pela Lava Jato, por Teori, que temia uma articulação
pró-Cunha.
O exame do caso pelo STF estava pautado para 8 de fevereiro, data
mantida por Edson Fachin, o novo relator da Lava Jato. Fachin chegou a dizer
que o caso seria examinado pelo plenário naquela data, mas a sessão foi
encerrada sem que o tema fosse discutido.
Edison Lobão na CCJ – 9 de fevereiro
Como a maior bancada do Senado, o PMDB
tinha o direito de indicar o presidente da Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ), o mais importante e estratégico colegiado da Casa. O nome escolhido pelo
partido foi o de Edison
Lobão (MA), objeto de dois inquéritos e duas investigações da Lava
Jato. A escolha de um alvo dos procuradores para atuar na linha de frente
do Senado foi entendida como uma tentativa de dar proeminência a ele para
enfrentar a Lava Jato.
Investigados na CCJ – 9 de fevereiro
Assim como a presença de Lobão na
presidência da CCJ, as nomeações dos senadores para compor o colegiado
provocaram questões sobre a motivação das indicações. Dez integrantes da
comissão são alvo da Lava Jato e poderão votar a indicação de Alexandre de
Moraes para o STF.
"Estadão" contra Dallagnol – 9
de fevereiro
Os editoriais do jornal O
Estado de S.Paulo mostram que os donos do veículos são atualmente os
mais alinhados à administração de Michel Temer. Na mesma semana, a publicação
fez dois artigos
atacando o procurador do MPF Deltan Dallagnol, coordenador da
força-tarefa da Lava Jato. Nos textos, o jornal acusou Dallagnol de defender um
"direito autoritário, próprio das tiranias" e a "relativização
do direito de defesa", preocupações que não manifestava quando Dilma estava
no poder.
Como se sabe, a imprensa teve um papel
relevante para galvanizar o discurso anticorrupção contra Dilma e o recuo nessa
posição poderia ajudar Temer, assim como prejudicar a Lava Jato, que deposita
muitas esperanças na opinião pública.
CCJ contra Janot – 10 de fevereiro
Duas das tarefas da CCJ do Senado são
sabatinar e aprovar, ou não, a indicação do Palácio do Planalto para a
Procuradoria-Geral da República. Reconduzido ao cargo por Dilma em 2015, contra
a pressão do PMDB, Rodrigo Janot está em seu segundo mandato, que acaba em
setembro.
Ele poderia ser reconduzido por Temer,
se este assim desejasse, mas deve enfrentar restrições na CCJ, onde estão
muitos alvos da Lava Jato. Segundo publicou a Coluna do Estadão,
"partidos atingidos pela Lava Jato" já iniciaram as tratativas para
bloquear um eventual terceiro mandato de Janot ou a escolha de alguém próximo a
ele.
Lobão defende anistia e critica delações – 11 de
fevereiro
Em entrevista publicada pelo jornal O
Estado de S.Paulo, Edison Lobão criticou a Operação Lava Jato. Para o
presidente da CCJ do Senado, a anistia ao caixa 2, vista como golpe de morte na
Lava Jato, é constitucional, e pediu mudanças na legislação que trata das
delações premiadas, defendendo que só sejam admitidas se o delator estiver
solto. Para Lobão, a Lava Jato “virou um inquérito universal” que pode
levar o Brasil à "tirania".
Lobão: investigado,
ele comanda a CCJ e é favor da anistia ao caixa dois (Foto: Marcelo Camargo /
Agência Brasil)
Leandro Daiello fora da Polícia Federal? – 12 de
fevereiro
Leandro Daiello é o diretor da Polícia Federal desde 2011, quando foi
nomeado por José Eduardo Cardozo, então ministro da Justiça de Dilma Rousseff.
Há muito tempo no cargo, colecionou desafetos na PF, em especial entre os
delegados. Na sexta-feira 10, uma assembleia da Associação Nacional dos
Delegados da Polícia Federal (ADPF) aprovou o envio de um carta a Temer pedindo
a cabeça de Daiello. Em 12 de fevereiro, a carta foi enviada.
A ADPF alega que Daiello estaria prejudicando as investigações da Lava
Jato, ao promover mudança na força-tarefa da operação, mas os integrantes da PF
que atuam na força-tarefa rechaçam essa impressão e atribuem a Daiello apoio
fundamental na continuidade das investigações. Temer vai nomear um novo
ministro da Justiça para o lugar de Daiello e a pressão da ADPF pode ser
alavanca para retirar do cargo o diretor da PF.
O silêncio das ruas – 13 de fevereiro
Na segunda-feira 13, vários dos
movimentos que foram às ruas contra o PT anunciaram um novo protesto para 26 de
março. A divergência de pauta entre eles na nova convocação evidencia,
entretanto, que a única motivação em comum desses grupos eram o antipetismo. O
Vem Pra Rua tem feito postagens nas redes sociais contra a nomeação de Moreira
Franco, mas o Movimento
Brasil Livre (MBL), que é aliado
do governo Temer, vai para as ruas defendendo as reformas
trabalhista e previdenciária, as duas principais pautas legislativas do
Planalto.
Temer protege os investigados do governo – 13
de fevereiro
Na segunda-feira 13, Temer fez um pronunciamento cujo objetivo declarado
era prometer que não iria interferir na Lava Jato. Como argumento para tanto,
disse que ministros denunciados seriam afastados provisoriamente e ministros
tornados réus seriam demitidos. Na prática, Temer deu um salvo-conduto para que
os ministros citados em delações premiadas continuem trabalhando, em uma
tentativa de blindar seu governo contra os vazamentos das investigações.
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