Energia solar e eólica mais barata do
que os combustíveis fósseis. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves IN Redação - 16/01/2017 https://www.ecodebate.com.br/
Assim como a Idade da Pedra não acabou por falta de
pedras,
a Era do Petróleo chegará ao fim, não por falta de óleo”
(Sheikh Ahmed-Zaki Yamani, 2000)
a Era do Petróleo chegará ao fim, não por falta de óleo”
(Sheikh Ahmed-Zaki Yamani, 2000)
[EcoDebate] A revolução da matriz energética rumo às
energias renováveis ganhou um grande impulso em 2016. O preço da energia solar,
pela primeira vez, ficou igual ou mais barato do que os combustíveis fósseis.
Em documento publicado em dezembro, o Fórum Econômico Mundial
(WEF) mostrou que em muitas partes do mundo, o preço das tecnologias
renováveis, particularmente a solar (a eólica on shore já estava mais barata),
caiu para níveis sem precedentes. Enquanto o preço global para o carvão e o gás
natural é de cerca de US$ 100 por megawatt-hora, o preço da energia solar
despencou de US$ 600 uma década atrás para US $ 300 apenas cinco anos depois e
agora está perto ou abaixo de US$ 100. Para os aerogeradores eólicos baseados
em terra, o preço é de cerca de US$ 50.
De acordo com o WEF, mais de 30 países já alcançaram paridade na
rede, mesmo sem subsídios. “Paridade de rede” é o ponto em que uma fonte de
energia alternativa, digamos solar, pode gerar energia em um custo nivelado
igual ou mesmo menor que o preço do poder da grade tradicional. Isto quer dizer
que o crescimento das energias renováveis não depende de uma vantagem de
subsídio. Ao contrário, o consumo de combustíveis fósseis recebeu US$ 493
bilhões em subsídios em 2014, mais de quatro vezes o valor dos subsídios às
energias renováveis.
O Sol irradia durante 365 dias o equivalente a 10 mil vezes a
energia consumida anualmente pela população mundial. Assim, o nosso astro maior
pode ser a grande fonte de energia renovável do planeta, tornando-se uma fonte
energética que seja abundante, permanente, relativamente limpa e ecológica. O
que faltava para o deslanche da energia solar era exatamente o custo de
produção. O gráfico abaixo mostra que a capacidade instalada global de energia
fotovoltaica cresceu mais de 10 vezes na última década e atingiu 50,6 GW em
2015
Estimativas para 2016 mostram que a capacidade instalada
cresceu 73 GW, sob a liderança da China, seguida pelos Estados Unidos, Japão,
Índia e Reino Unido. O Brasil ficou em vigésimo lugar, perdendo para países
muito menores como Chile, África do Sul, Taiwan e Argélia. A Costa Rica usou
98,9% de energia renovável em 2016 e funcionou inteiramente na base da energia
renovável por mais de 250 dias no ano passado, fato anunciado pelo operador de
energia. A Costa Rica pode se tornar o primeiro país carbono-neutro do mundo.
Infelizmente, os últimos
governos brasileiros resolveram apostar no pré-sal, como se fosse o “passaporte
para o futuro” do Brasil. Acontece que os combustíveis fósseis são uma fonte de
energia ultrapassada e altamente poluente. A Petrobras deveria mudar o nome
para Energibras e investir pesadamente em energias renováveis. Se os governos
brasileiros tivessem utilizado as enormes “jazidas” de sol e vento do país, aí
sim teríamos um “passaporte para o futuro”, pois as energias renováveis
representam a alternativa para o terceiro milênio. O avanço da energia solar e
eólica pode evitar também crimes ambientais como a hidrelétrica de Belo Monte e
outras barragens que impedem o livre fluxo dos rios e da vida aquática.
Evidentemente, há aumento da produção de energia solar e eólica no Brasil. Mas
o avanço é lento em relação ao resto do mundo e a democratização dos sistemas
descentralizados é pequena.
Empreendedores,
como Ellon Musk, apostam na produção de carros elétricos, autônomos e
compartilhados e na integração entre os veículos elétricos e a produção
doméstica de energia fotovoltaica, via telhados solares e baterias solares.
Todo o sistema produtivo nacional pode ser afetado, positivamente, pela nova matriz
energética. Especialmente se for feita de forma descentralizada, democrática,
ambientalmente sustentável e fortalecendo o desenvolvimento local.
A
Administração Nacional de Energia (NEA) da China, em documento que estabelece
seu plano para desenvolver o setor de energia da nação durante o período de
cinco anos de 2016 a 2020, planeja investir US$ 361 bilhões em geração de
energia renovável até 2020, enquanto tenta mudar rapidamente da dependência do
carvão sujo para combustíveis mais limpos. Os altos níveis de poluição
atmosférica e as doenças respiratórias exigem a mudança energética.
Até
2025, a energia solar pode ficar mais barata do que o carvão, na média global,
de acordo com a Bloomberg New Energy Finance. Desde 2009, os preços da energia
solar caíram 62%. Isso ajuda a reduzir os prêmios de risco em empréstimos
bancários e empurrou a capacidade de produção para níveis recorde.
Tudo
indica que o mundo está passando por uma mudança em sua matriz energética. O
predomínio do petróleo está ficando para trás e as energias renováveis estão
assumindo a liderança. Isto é uma boa notícia para o clima, pois as energias
renováveis emitem menor proporção de gases de efeito estufa. Resta saber se a
velocidade desta mudança será suficiente para evitar os efeitos perversos do
“pico do petróleo” e será suficiente para conter o aquecimento global e os
impactos das mudanças climáticas.
Como
alertou o ambientalista Ted Trainer (2008), as energias renováveis não são
suficientes para manter a expectativa das pessoas por um alto padrão de consumo
conspícuo. Ou como disse Mahatma Gandhi: “Há recursos suficientes no mundo para
as necessidades do ser humano, mas não para a sua ambição”.
O sol e
o vento são recursos naturais abundantes e renováveis, mas não podem fazer
milagres e nem evitar a continuidade do metabolismo entrópico, como ensina a
escola da economia ecológica. A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga
do Planeta. Nesse sentido, Trainer prega um mundo mais frugal, com
decrescimento demoeconômico, onde as pessoas adotem um estilo de vida com base
nos princípios da Simplicidade Voluntária. ENERGIAS RENOVÁVEIS SIM,
CONSUMICÍDIO NÃO!
José
Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em
demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território
e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas –
ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail:
jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, 16/01/2017
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