Políticas de “austeridade” ampliam concentração de riqueza.
Oxfam denuncia: agora, oito homens já têm mais que a metade dos habitantes do
planeta. Mas há alternativas
Por Oxfam | Imagem: Sara Distin
Estamos criando condições para recuperar o país
e voltar a crescer, diz o presidente Michel Temer – e repetem os
jornais – a cada medida adotada para reduzir o investimento social, eliminar
direitos previdenciários, “simplificar” as exigências das leis trabalhistas e,
supostamente, “equilibrar” as contas públicas. Exatamente como Temer agem,
desde a crise de 2008, quase todos os governantes do mundo. “Austeridade”,
“ajustes fiscais”, “apertar os cintos” tornaram-se conceitos dominantes no
jargão politico e econômico da última década. Qual foi o resultado?
Um relatório que acaba de ser divulgado pela organização
internacional Oxfam – voltada ao estudo e denúncia da desigualdade – revela.
Tais políticas permitiram que apenas oito homens possum a mesma riqueza que os
3,6 bilhões de pessoas que compõem a metade mais pobre da humanidade. O
documento Uma economia humana
para os 99% mostra que a
diferença entre ricos e pobres aumenta a cada edição do estudo, numa velocidade
muito maior do que a prevista. Os 50% mais pobres da população mundial detêm
menos de 0,25% da riqueza global líquida. Nesse grupo, cerca de 3 bilhões de
pessoas vivem abaixo da “linha ética de pobreza” definida pela riqueza que
permitiria que as pessoas tivessem uma expectativa de vida normal de pouco mais
de 70 anos.
“O relatório
detalha como os grandes negócios e os indivíduos que mais detêm a riqueza
mundial estão se alimentando da crise econômica, pagando menos impostos,
reduzindo salários e usando seu poder para influenciar a política em seus
países”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam no Brasil.
Os números da
desigualdade foram extraídos do documento Credit
Suisse Wealth Report 2016. (Veja
link abaixo.) Segundo a organização, 1 em cada 10 pessoas no mundo
sobrevive com menos de US $ 2 por dia. No outro extremo, a ONG prevê que o
mundo produzirá seu primeiro trilhardário em apenas 25 anos. Sozinho, esse
indivíduo deterá uma fortuna tão alta que, se ele quisesse gastá-la, seria
necessário consumir US$ 1 milhão todos os dias, por 2.738 anos, para acabar com
tamanha quantia em dinheiro. O discurso da Oxfam em Davos também mostrará que 7
de cada 10 pessoas vivem em países cuja taxa de desigualdade aumentou nos
últimos 30 anos. “Entre 1988 e 2011, os rendimentos dos 10% mais pobres
aumentaram em média apenas 65 dólares (US$ 3 por ano), enquanto os rendimentos
dos 10% mais ricos cresceram uma média de 11.800 dólares – ou 182 vezes mais”,
aponta o documento.
“A desigualdade está mantendo milhões de pessoas na pobreza,
fragmentando nossas sociedades e minando nossas democracias. É ultrajante que
tão poucas pessoas detenham tanto enquanto tantas outras sofrem com a falta de
acesso a serviços básicos, como saúde e educação”, reforça Katia Maia.
O relatório
destaca ainda a situação das mulheres que, muitas vezes empregadas em cargos
com menores salários, assumem uma quantidade desproporcional de tarefas em
relação à remuneração recebida. O próprio relatório do Fórum Econômico Mundial
(2016) sobre as disparidades de gênero estima que serão necessários 170 anos
para que as mulheres recebam salários equivalentes aos dos homens. Segundo o
texto, as mulheres ganham de 31 a 75% menos do que os homens no mundo.
A sonegação de impostos,
o uso de paraísos fiscais e a influência política dos super-ricos para
assegurar benefícios aos setores onde mantêm seus investimentos são outros
destaques do documento da Oxfam.
A Oxfam é
uma confederação internacional de 20 organizações que trabalham em mais de 90
países, incluindo o Brasil, com o intuito de construir um futuro livre das
desigualdades e da injustiça causada pela pobreza. Uma das características
centrais de seu estudo é a postura não-contemplativa. A organização está
empenhada em buscar alternativas que permitam construir “uma economia para os
99%”. Eis, a seguir, algumas de suas propostas para tanto.
Uma Economia
Humana para os 99%
Outras
conclusões do Relatório da Oxfam (Davos, 2017)
- Desde 2015, o 1% mais rico detinha mais riqueza que o
resto do planeta.i
- Atualmente, oito homens detêm a mesma riqueza que a
metade mais pobre do mundo.ii
- Ao longo dos próximos 20 anos, 500 pessoas passarão mais
de US$ 2,1 trilhões para seus herdeiros – uma soma mais alta que o PIB da
Índia, um país que tem 1,2 bilhão de habitantes.iii
- A
renda dos 10% mais pobres aumentou em menos de US$ 65 entre 1988 e 2011,
enquanto a dos 10% mais ricos aumentou 11.800 dólares – 182 vezes mais.iv
- Um diretor executivo de qualquer empresa do índice
FTSE-100 ganha o mesmo em um ano que 10.000 pessoas que trabalham em
fábricas de vestuário em Bangladesh.v
- Nos Estados Unidos, uma pesquisa recente realizada pelo
economista Thomas Pickety revela que, nos últimos 30 anos, a renda dos 50%
mais pobres permaneceu inalterada, enquanto a do 1% mais rico aumentou
300%.vi
- No Vietnã, o homem mais rico do país ganha mais em um
dia do que a pessoa mais pobre ganha em dez anos.vii
- Uma em cada nove pessoas no mundo ainda dorme com fomeviii.
- O Banco Mundial deixou claro que, sem redobrar seus
esforços para combater a desigualdade, as lideranças mundiais não
alcançarão seu objetivo de erradicar a pobreza extrema até 2030.ix
- Os lucros das 10 maiores empresas do mundo somam uma
receita superior à dos 180 países mais pobres juntos.x
- O diretor executivo da maior empresa de informática da
Índia ganha 416 vezes mais que um funcionário médio da mesma empresa.xi
- Na década de 1980, produtores de cacau ficavam com 18%
do valor de uma barra de chocolate – atualmente, ficam com apenas 6%.xii
- A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que
21 milhões de pessoas são trabalhadores forçados que geram cerca de US$
150 bilhões em lucros para empresas anualmente.xiii
- As maiores empresas de vestuário do mundo têm ligação
com fábricas de fiação de algodão na Índia que usam trabalho forçado de
meninas rotineiramente.xiv
- Embora as fortunas de alguns bilionários possam ser
atribuídas ao seu trabalho duro e talento, a análise da Oxfam para esse grupo
indica que um terço do patrimônio dos bilionários do mundo tem origem em
riqueza herdada, enquanto 43% podem ser atribuídos ao favorecimento ou
nepotismo.xv
- Mulheres e jovens são particularmente mais vulneráveis
ao trabalho precário: as atividades profissionais de dois em cada três
jovens trabalhadores na maioria dos países de baixa renda consistem em
trabalho vulnerável por conta própria ou trabalho familiar não remunerado.xvi
- Nos países da OCDE, cerca de metade de todos os
trabalhadores temporários tem menos de 30 anos de idade e quase 40% dos jovens
trabalhadores estão envolvidos em atividades profissionais fora do padrão,
como em trabalho por empreitada ou temporário ou empregos involuntários em
tempo parcial.xvii
- A edição de 2016 do relatório anual do Fórum Econômico
Mundial sobre as disparidades de gênero revela que a participação
econômica de mulheres ficou ainda mais baixa no ano passado e estima que
serão necessários 170 anos para que as mulheres recebam salários
equivalentes aos dos homens.xviii
Sugestões da
Oxfam para uma economia mais humana
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.