quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Especialistas questionam validade das 10 medidas do governo para o caos prisional.

9.jan.2017 - Pessoas visitam sepulturas de presos vítimas de rebelião em presídio de Manaus, que deixou 56 mortos, boa parte decapitada

Com o número crescente de assassinatos em presídios pelo país, o governo do presidente Michel Temer (PMDB) já anunciou 10 medidas -- até o momento -- para conter o caos penitenciário.
O UOL ouviu especialistas do sistema prisional para discutir se as propostas trazem soluções efetivas contra as matanças e rebeliões que já resultaram na morte de 134 detentos nas duas primeiras semanas do ano. Apesar de elogiar algumas sugestões, como a permissão das Forças Armadas dentro das penitenciárias, eles questionaram outras soluções, como a criação de novos presídios e a formação de um comitê de discussão para a reforma do sistema.
Confira abaixo o que eles falaram sobre cada uma das 10 propostas.

1- Transferência de líderes de facções para presídios federais

Maurício Kuehne, ex-diretor geral do (Depen) Departamento Penitenciário Nacional, afirma que a medida é acertada, porque as unidades prisionais da Federação foram criadas justamente para colocar os "presos mais perigosos". "É preciso neutralizar a ação desses líderes de facções e retirá-los dos presídios estaduais", diz.
Já para Douglas Martins, ex-coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (DMF) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a proposta é ineficiente e pode, inclusive, fortalecer a imagem dos líderes de facções. "Depois de um tempo, eles voltam para as prisões estaduais e lideram as rebeliões. Voltam com um patamar de respeito. Como alguém que fez um doutorado na Europa", avalia.

2- Recursos para sistema de bloqueio de celulares

O governo federal anunciou que R$ 150 milhões serão destinados a um projeto que bloqueará telefones celulares em 30% das penitenciárias.
A medida é considerada positiva pelos especialistas, diante da dificuldade de evitar a entrada dos aparelhos dos presídios. "É uma redução de danos, já que o sistema se mostrou incapaz de impedir o uso de celulares pelos presos", afirma Martins. 
O uso da tecnologia tem alto custo e, por isso, não deverá ser aplicado em todo sistema prisional, explica Kuehne, ex-diretor do Depen. Segundo ele, a eficácia da medida está ligada diretamente à classificação dos presidiários. "É preciso cumprir a Lei de Execução Penal que prevê a separação dos presos com atos graves e leves. O certo é botar esses bloqueadores só nos presídios onde estão os detentos com periculosidade acentuada."

3- Compra de 3 mil scanners corporais, ao menos 3 por prisão

De acordo com o Ministério da Justiça, R$ 80 milhões serão necessários para a compra dos aparelhos. Menos da metade das prisões brasileiras conta com a tecnologia.
"O scanner é uma tecnologia de ponta que faz muita falta nas unidades prisionais", opina o ex-diretor do Depen. Segundo Kuehne, os scanners fazem "praticamente uma radiografia do corpo humano" e podem impedir a entrada de armas nas prisões. 

A medida também é apoiada pelos especialistas porque põe fim às revistas vexatórias. "As mulheres poderiam se livrar desse método arcaico de revistas íntimas", diz Martins. 

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